sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Só de passagem...

Era um momento.
Nada mais!
De fato mamãe, tudo o que disseste-me acerca do mundo e da vida não consigo ver nas ruas. Dentro de mim, há uma grande falta de entendimento acerca de tudo, da qual não é possível sequer dizê-la. E se tento ao menos dizer, expressar-me de maneira clara e objetiva, é melhor calar-me no silêncio dos enleios e arredores das ruas.
Mas, tu que disseste-me que a vida era assim mesmo, que as pessoas fazem maldades são assim mesmo; que os acontecimentos da vida são assim mesmo e que tudo isso que acontece é normal em nossa vida mesquinha e escrava da qual levamos, é melhor ser velado pelas parcas circunstâncias que cobrem meu rosto e me impedem de ver o que está posto em minha face.
Quanta falta de entendimento!
Não entendo!
E quando suponho que entendo alguma coisinha que acontece, de fato não entendo bulufa nenhuma, e acabo caindo em falsas ilusões, mitos e tudo qualquer porcaria que desvia-me dos sentidos.
Nada se entende.
Mas, tu que é pessoa correta, a favor de posições que até hoje não sei o que significa, algo se esconde do que disseste-me.
Até parece obvio, deve sê-lo! Pois se não o é da forma que disseste-me é de outra. E aí? E se for? O que faço?
(...)
Desfaço-me em vários compartimentos como muitos que estão por aí buscando a vida. Eles sabem mamãe realmente qual o problema mesmo? Desde pequenos estão acostumados a ouvirem historinhas dizerem “olha, é assim mesmo, deixe pra lá...” não vai ser porra nenhuma. A vida é. Nada mais.
Todos sabemos que há limitações para o bom viver de todos, há muitos que o degeneram e não buscam simplesmente a vida. O que fazem? Permanecem na eterna ignorância de buscar explicações para o desvio do feito.
Mas nada acontece!
É uma verdadeira perca de tempo!
Perda de tempo essa como se fosse explicar alguma coisa justificando com argumentos de Deus. Existem pessoas que se preocupam com isso. Pois dizem: “ se é assim é por que Deus quis assim que fosse, vou entregar nas mãos dele”.
Como seria entregar nas mãos de Deus? Subir uma escada em direção ao céu e lá no final ver um homem que não sei descrever; conversar com ele e dizer : “Deus, aqui está! Entrego em suas mãos”, em seguida ele diz : “Tudo bem meu filho, pode ir embora”.
Vejo apenas que há alguma coisa mais potente do que eu, o que é, eu não sei...Se fiz livremente esta escolha, quer dizer, não tão livremente assim, vejo então mamãe que algumas coisas que disseste-me acerca do mundo e da vida não passam de minguados entendimentos de existência e seus correlatos.
Quanta falta de entendimento!

Escrever

Escrever é uma tarefa cálida, gostosa como a vida. É nela, escrevendo, que encontro-me com o desconhecido, dissipo-me de sentimentos que me acompanham...A escrita é como um trabalho arqueológico, é preciso escavar os montantes (...) Assim, conhecemos ao menos um pouquinho do que buscamos; às vezes, a descoberta é sem querer, daí cava-se os lugares escondidos, e a descoberta é maior, valiosa, árdua e dolorida...Daí entende-se o porque de escrever.


domingo, 16 de novembro de 2008

A Manoel de Barros...

I

Uso a palavra para compor meus silêncios;
A elas, dou mais respeito
Não que goste de outras coisas,
Palavras confortam-me
Dizem o não dito
Regatam o já falado
Nesta imensa rua que é a vida...

sábado, 8 de novembro de 2008

Acontecimento

Mãe; quero ir-me embora, a vida não é nada daquilo que disseste quando meus olhos viram que a rua dizia muito mais do que tuas parcas palavras vazias. O desespero, que foi tão grande, murcharam tão depressa a aqueles que nem me deram um mínimo de atenção – se é que me deram! Já não tenho certeza o que disseste, mas tu deves lembrar porque disseste que isso ia acontecer.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Impunidade e Autoritarismo no caso Dorothy Stand

Todos sabem que o Brasil é um país ancorado em bases estritamente autoritárias, que não houve revolução de fato e que a terra é fruto da expoliação capitalista que dura até os dias de hoje.
O caso da Missionária Dorothy Stand brutalmente assassinada por seis tiros disparados a queima roupa por pistoleiros a mando de grileiros e madeireiros da região de Anapu, no Pará é apenas mais um exemplo de como a impunidade segue livre na mesma proporção que se beneficia o latifúndio. Pois o mandante do crime não foi preso e continua livre, leve e solto!
Conhecida por sua atuação em projetos de desenvolvimento sustentável e na luta pelos Direitos Humanos, Dorothy Stand é mais uma vítima da luta pela terra e dos assassinos que atuam em mandato de latifundiários que lutam a qualquer custo para preservar suas terras.
Esta é uma impunidade da qual aqueles que julgam estes crimes são cúmplices!
Uma situação que não só aumentou a indignação de todos, como fez com que muitos identificassem o governo e sua política como os responsáveis que se encontram por trás dos pistoleiros e dos mandantes. Algo que o governo tentou negar, enviando para a área alguns policiais, políticos e ministros, dentre eles Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Nilmário, que chegou a declarar que a freira não tinha proteção por não ter requisitado.Uma hipocrisia que a poucos engana! Como a advogada da Comissão Pastoral da Terra, Rosilene Silva, declarou à imprensa, “por várias vezes, irmã Dorothy denunciou que estava sendo ameaçada e nada foi feito; agora, depois que ela foi assassinada, todas as autoridades da segurança pública resolveram se reunir em Anapu”.
Uma grande vergonha!
O fato é que a morte da freira é apenas mais uma entre os vários casos que inclui Chico Mendes, os sem-terra de Corumbiara, Eldorado dos Carajás, dentre outros que foram vitimados pela combinação de concentração latifundiária, impunidade e negligência criminosa dos sucessivos governos e de todo o aparato do Estado.
Estes fatos apenas constituem e legitimam o desenvolvimento de um país estritamente autoritário, cuja política coronelista ainda impera em várias regiões de nosso país que não está nem um pouco preocupada e disposta a mudar tais medidas tomadas por estes donos de terras que procuram a qualquer custo manter seus interesses.
Este acontecimento mostra apenas a forma de constituição colonialista de nosso país e que pouco mudou ao longo destes séculos!

domingo, 14 de setembro de 2008

Discriminação e linguagem oprimida

“O terceiro mundo precisa começar uma nova história”
(Frantz Fanon)
I
É de conhecimento de todos que a sociedade está dividida em classes. Olhemos em volta por um instante, ou então caminhemos pelas ruas para ver o que os livros, revistas e jornais nos dizem constantemente. São muitas informações, cada qual a sua maneira e às vezes não acessíveis a todos, devido ao código lingüístico ali encontrado. Além disso, podemos encontrar pessoas de diversas localidades do país; cada uma falando a sua maneira, demonstrando suas relações com a cultura, que às vezes utiliza-se de modos não convencionais de linguagem e isto apenas demonstra as implicações complexas e peculiares do jeito de ser de cada um, trazendo em si seus modos e sua cultura. Este é o Brasil que vivemos, dividido em suas múltiplas facetas.
No entanto, é nesta mesma sociedade que presenciamos um forte exercício de controle de linguagem e dos modos de falar, de se comportar e até de uma suposta ação que diz ser correta e “democrática” para determinados segmentos sociais. Acontece, porém, que ao mesmo tempo em que se fala em ação democrática para tais grupos sociais, Gnerre menciona que o que ocorre é uma discriminação de forma explícita (não encoberta) com base nas capacidades lingüísticas medidas no metro da gramática normativa e da chamada “língua padrão” No entanto, o que ocorre é uma constante redefinição de “normas” e de um novo consenso para ela.
Neste sentido, adquire-se uma complexa relação entre linguagem, poder e discriminação que ocorre no cotidiano das relações sociais, de forma velada e amparada pelos “discursos oficiais” que dizem o que é certo e o que é errado para a sociedade. Entretanto, esta complexa relação (dita anteriormente) escandaliza-se quando alguém se desvia das “normas” postas pelos legisladores e o que ocorre é uma rápida tentativa de ajustar o discurso à “norma” estabelecida. Não falta quem denuncie esta subordinação. Desde os primeiros dias na escola aprendemos que as construções do engenho humano foram realizadas por determinados grupos sociais, o que não entendemos é que estas construções de pequenos grupos privilegiados são resultados de convenções sociais destes que decidiram sobre o que deveria ser preservado e silenciado. Romão elucida um exemplo interessante acerca da questão por meio da expressão “ pas de documents, pas d’histoire”. “Esta expressão é reveladora; se não há história onde não há documento escrito, não há história do povo, por que este geralmente não escreve. Este absolutismo documental escrito na ciência histórica é um dispositivo ideológico excludente, usado pela cultura letrada e velado sob o argumento de uma superioridade epistemológica em relação aos “registros “da oralidade gravada na memória das gerações”.
É preciso verificar que estas relações não ocorrem de forma neutra, ou seja, há uma intenção ao fazê-las no momento em que tais atos se tornam públicos. Neste sentido, podemos dizer que nestas relações sociais há ideologia, existem inúmeros exemplos: quando uma pessoa nos diz: “Nós fomos à casa de João” é aceitável. Porém, quando se é dito: “ A gente fomos na casa de João”, e a pessoa diz: “Está errado, não é a forma correta de falar!” É preciso verificar neste discurso as relações ideológicas e discriminatórias que nelas contêm.
Quando um determinado discurso é aceito, existe uma convenção que o ampara no seu modo correto de falar, mas quando este falar é considerado incorreto e é repudiado por aqueles que tentam ajustá-lo a “norma”, o que ocorre não é simplesmente uma repreensão, mas uma sutil discriminação que exclui “aquele que não sabe falar” segundo as normas estabelecidas.
É interessante relembrar José Eustáquio Romão, para o autor à variedade das línguas neolatinas não derivou do latim clássico, e sim, do latim vulgar. Não faz sentido que as escolas de língua neolatina rechacem o dialeto popular em nome de uma “maior riqueza da norma culta”. Não estariam estes alimentando um certo “classicentrismo”?
II
A linguagem não é usada somente para informar, a função cerne da linguagem é transmitir alguma idéia ou orientação a quem a presencia. As pessoas falam para serem ouvidas, para serem respeitadas, e para exercerem influência no ambiente em que ocorrem os atos lingüísticos. Este tipo de relação adquire cada vez mais força quando é exercido no âmbito social, histórico e político, pois as palavras possuem história e o que predomina neste jogo são as regras. Toda pessoa precisa saber das regras que governam as produções apropriadas para os atos lingüísticos. Gnerre menciona que todo ser humano tem de agir de acordo com tais regras, é preciso saber o momento de falar, isto é, quando pode e não pode e que tipo de variedade lingüística é oportuna para que seja usada. Tudo isso em relação ao contexto lingüístico e extralingüístico em que o ato verbal é produzido.
A presença de tais regras ganha configuração consubstancial não só para quem fala, mas para quem ouve, e é com base nas regras que se pode ter alguma expectativa em relação à produção lingüística do falante. Esta capacidade de previsão é devido ao fato de que nem todos na sociedade brasileira possuem acesso as variedades dos conteúdos referenciais. Somente uma pequena parcela dos brasileiros tem acesso tais variedades, tida como “culta” ou “padrão”, que é considerada geralmente a língua que possui conteúdos de “prestígio”.
Esta variedade lingüística é o reflexo do poder e da autoridade nas relações sociais e econômicas. A diferenciação política é um elemento imo para a diferenciação lingüística. Neste sentido, a evidência que Gnerre nos aponta é que a associação entre variedade e comunicação escrita implica em refletir sobre o processo de elaboração da mesma. Citando Habermas, o autor comenta que legitimação é o processo de produzir idoneidade ou dignidade a uma ordem de natureza política, para que seja reconhecida e aceita.
O código; aceito pelo poder é tido como neutro e superior e todos os cidadãos precisam produzi-los para entender. Mas há um elemento interessante a se verificar nesta complexa relação entre linguagem, poder e discriminação. Os cidadãos, apesar de declarados iguais perante a lei, são discriminados na base do código em que a lei é redigida, isto ocorre porque a maioria destes possui reduzidas possibilidades de acesso constituídas pela escola e pela “norma” pedagógica ensinada. O fato de as pessoas serem discriminadas pela maneira como falam está intrinsecamente ligado às relações de poder, entre a norma reconhecida e a aproximação deste com a norma. Neste processo, existem segmentos sociais que são peças chave para a continuidade deste processo, um deles é a escola, que por meio de sua gramática normativa “tenta” ensinar aqueles que supostamente não sabem.
É preciso observar que neste deficitário quadro, a escola tem sido um dos instrumentos superestruturais mais poderosos para a manutenção e reprodução da linguagem dominante; isto ocorre pela difusão da ideologia predominante nos currículos, no disciplinamento adestrador dos alunos, pela imposição de valores burgueses, pelo submetimento a regras do trabalho, exploração e consumo do capital.
Resta-nos a pergunta. E a grande parcela dos brasileiros discriminados que não tem acesso a esta variedade lingüística? O que fazem?
Neste sentido, a assunção do discurso dominante, é, portanto, a linguagem do dominante. E ao assumi-la, tem-se uma linguagem oprimida, silenciada.

domingo, 7 de setembro de 2008

Anti-Democracia: Contra política do Pão e do Circo

Vivemos em uma sociedade em que a política é vista como uma atividade de determinadas classes, sem sentido público e coletivo. Os interesses e as preocupações das pessoas se restringem estritamente ao âmbito privado, no entanto, todos reclamam da forma que é executada a política, da ineficiência dos serviços públicos, dos políticos, dos altos impostos, dos descalabros decorrentes na sociedade; mas nada se faz. Tudo permanece inerte.
Se em alguns momentos da história o sujeito fazia sentido ao mundo público, nos tempos contemporâneos o que ocorre é o revés. Estes mesmos sujeitos que reclamam do público são os que se refugiam no mundo privado, pois o público é tido como ineficiente e alheio. As ruas, as praças, as escolas, os hospitais são vistos apenas como lugares de passagem. Do mesmo modo que estes locais se tornam esquadros, as pessoas transitam nas ruas com medo.
É a cultura do espanto, quiçá estes elementos tenham profundas heranças enraizadas na modernidade.
Nossos tempos, marcados por sinais que conjugam com a incerteza, insegurança, desproteção que são visíveis ao olhar de todos, é a herança da apatia predominante nos dias de hoje. As pessoas têm a sensação de que pouco podem fazer para mudar o estado de coisas. Mas, não é esta mesma sociedade em que os políticos dizem ser democrática? O que acontece para que o estado de coisas não mude?
O fato é que muitos têm medo. Ao lado da apatia reinante, a impossibilidade de mudar parece evidente.
A sociedade brasileira se acostumou com a falta de proteção, aprendeu a conviver com o medo, com a bala perdida e o desemprego. Vivemos em um país em que um parlamentar confessa ter recebido dinheiro de forma ilegal e nada acontece; que o presidente da República afirma com toda calma em entrevista que caixa dois é prática comum em todas as eleições e que todo mundo faz, e um procurador denuncia a existência de 40 bandidos no congresso, mas nada acontece.
Este é o retrato de nossa democracia burguesa!
É neste mesmo país que se destina cerca de dez milhões de dólares para levar o Coronel Marcos Pontes ao espaço, enquanto a educação recebe bem menos que isso.
II
Há quase exatamente oito anos um operário ocupa a cadeira presidencial de seu país. Poucos países podem colocar este dado no seu currículo. Houve um dado de esperança, o lema da campanha de Lula foi “a esperança venceu o medo”.
Será que houve superação do medo?
Um fato é certo, a sociedade não é democrática, pelo contrário, que democracia é essa que acentua a desigualdade social?
De acordo com Norberto Bobbio, democracia é a forma de governo na qual o poder é exercido por todo povo, por maior número, ou por muitos. A democracia se distingue da monarquia e da aristocracia, nas quais o poder é exercido respectivamente por um ou por poucos.
Conservando marcas da sociedade colonial, escravista, as relações sociais são realizadas como relação entre um superior, que manda, e um inferior, que obedece. O outro, jamais é reconhecido como sujeito de seus direitos, pelo contrário, é visto como um mero objeto de serventia.
Este é o país em que vivemos, onde a concentração de renda e da riqueza é marca registrada neste país. O motivo desse fato é decorrente da enorme concentração de poder. Os 10% mais ricos da população impõem historicamente a ditadura da concentração, pois chegam a responder por quase 75% da riqueza nacional, enquanto os 90% mais pobres ficam com apenas 25%. Ou seja, o que prevaleceu mesmo o país tendo mudado várias vezes de regime, foi à ditadura da concentração de renda. Essa situação se agrava ainda mais quando pensada nos dias atuais; embora o país possua aproximadamente 60 milhões de famílias, 45% de toda a renda e riqueza nacional são apropriadas por apenas 5 mil famílias. Este descalabro vem sobrevivendo a todas as mudanças históricas.
Resta novamente a pergunta: Que democracia é essa que acentua a desigualdade social? Isso só acentua a gravidade e o enfraquecimento deste conceito.
III
Quando se tenta questionar os valores sociais impostos pela burguesia dominante o que ocorre é simplesmente o silenciamento do outro.
Foi o que aconteceu...
No dia 02 de setembro, a ministra da casa civil, Dilma Rousseff, visitou o campus Rudge Ramos da Universidade Metodista de São Paulo, a fim de participar do lançamento da candidatura de Luís Marinho a cidade de São Bernardo do Campo, e o seu vice, o cantor Frank Aguiar, mais conhecido como o cãozinho dos teclados.
O evento foi realizado no salão nobre, localizado no Edifício Beta. Toda a panela Petista se encontrava por lá. Inclusive o Senador Aloizio Mercadante.
Muitos alunos do curso de filosofia não ficaram sabendo do evento, uma vez que o mesmo não foi divulgado, ou seja, o que houve não foi apenas um lançamento de programa, pelo contrário, foi um evento de exclusividade do Partido dos Trabalhadores.
Quando ficamos sabendo do evento, decidimos realizar um ato de repúdio, pois não se tratava de um debate, mas sim uma festa eleitoreira do PT juntamente com a imprensa! Ora, a Universidade não é local para esse tipo de politicagem, para isso, os Partidos Políticos tem seus diretórios.
Nós, estudantes de Filosofia entendemos que este tipo de evento não é correto fazer em uma Universidade e que seria mais prudente um debate entre os candidatos e não um evento fechado de exclusividade do PT.
Neste sentido, subimos as escadas que dão acesso ao salão nobre com os seguintes dizeres:
“Politicagem em cima de sala de aula é um péssimo jeito de iniciar um diálogo com a educação."
Foi o suficiente para iniciar o estopim.
Militantes e seguranças do Partido dos Trabalhadores agiram violentamente contra nós estudantes de Filosofia, fomos escorraçados a socos e pontapés pelos jagunços do PT. Corremos em direção aos corredores de nosso curso onde violentamente fomos agredidos. Após o feito, vários alunos saíram em direção para ver o acontecido, enquanto isso, os militantes e seguranças do PT foram embora pela porta dos fundos.
IV
Enquanto os homens exercem seus podres poderes, Dilma Rousseff se pronunciou:
“As manifestações como essa não são democráticas, porque eles (os estudantes) entraram em um local fechado. Se expressaram de uma forma um tanto quanto, eu diria, não necessária. Espero, pelo bem da democracia, que é muito melhor uma convivência mais civilizada".
Há alguns elementos a serem desnudados na fala da Ministra da Casa Civil.
Em primeiro lugar estávamos no edifício em que estudamos e não como diz a ministra, em um local fechado. Se, expressamos de uma forma desnecessária ao estender um cartaz e as manifestações que a ministra as classificou como não democráticas, preferimos ser ANTI-DEMOCRÁTICOS, pois se democracia se faz com socos e pontapés, preferimos ser anti-democráticos. Isso só mostra como a palavra democracia não faz o menor sentido numa sociedade que possui fortes raízes do colonialismo e escravismo.
Devemos lutar contra a manipulação alienante que ocorre na sociedade nos dias de hoje. Ao contrário dos que pensam que agimos a favor de Orlando Morando, adversário de Luis Marinho em São Bernardo do Campo, agimos em favor de nossa indignação para com o cenário político nacional.
Difícil é mesmo ver as pessoas sujeitadas a estas politicagens, resignados ou cínicos, a política torna-se sinônimos de interesse privados e do mercado, ou seja, das elites.
Abandonar?
Não!
Compactuar com o estado de coisas é ser conivente com toda essa manipulação decorrente.
Por isso, nosso lema é Fora-Todos!
Universidade não é local de Politicagem!
Pelo contrário, é local de debates.
Por isso, nós estudantes de filosofia estamos mobilizados na construção de uma educação mais decente e pela livre expressão dentro e fora da universidade.
Contatos: estudantesfilosofia@gmail.com

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Carandiru: O que resta hoje?

O que restou do caso Carandiru – cuja justiça puniu o falecido Ubiratan Barbosa acusado de dar ordens para a entrada de policiais na Casa de Detenção do Carandiru, transformando-se em um dos maiores assassinatos promovidos pelo Estado de São Paulo.
As pessoas que promoveram esse verdadeiro horror onde estão? Sabe-se apenas dos que foram massacrados por opressores em nome do Estado. Além de Ubiratan Barbosa, onde estão os policiais que cometeram tal brutalidade? Nas ruas? Continuando a matar pessoas? Promovendo a opressão entre a população? As perguntas são muitas, mas, estão demasiadamente distantes de serem respondidas.
Para tentar responder as perguntas, é necessário resgatar o que aconteceu no ano de 1992, mais precisamente no dia 02 de outubro.
Neste ano e nesse mesmo dia, presos da Casa de Detenção do Carandiru jogavam futebol, durante o jogo entre a turma da área de alimentação e o time dos encarregados da faxina, ocorreu um desentendimento entre dois presos, causado pela disputa no espaço de varal do pavilhão 09. Segundo Sandra Carvalho e Evanize Sydow[1], “Barba” pendurava sua roupa no varal quando foi provocado verbalmente por “Coelho”. “Barba” de um soco em “Coelho”. Este, por sua vez, utilizou um pau que escorava a corda do varal, atingindo “Barba” na cabeça, que foi socorrido por agentes penitenciários, sendo levado para a enfermaria. “Coelho” foi atacado por agentes penitenciários e levado para outro local . O portão que dá acesso ao segundo pavimento foi trancado pelos guardas. Os presos reagiram, e iniciaram a desordem. Um amigo de “Barba” considerou a agressão inerme e desafiou um comparsa de “Coelho” para brigar. Nesse bojo, um agente penitenciário tentou separar, mas foi advertido por outros detentos, que queriam que a briga continuasse. O tumulto crescia. O sentinela PM Leal vê o agente penitenciário no meio do grupo e, mirando o fuzil, ordena que soltem o carcereiro. Um outro agente penitenciário grita para que o alarme seja acionado. O alarme soa. Pelo telefone da guarita, o PM Leal comunica o Batalhão da Guarda e alerta que há rebelião no Pavilhão 09. Às 13h50, carcereiros tentam, sem sucesso, abafar as brigas entre os presidiários. Não há probabilidade de fugas dos detentos, não há reféns e tampouco reivindicações por parte dos presos. Às 14h00, os carcereiros haviam abandonado o local. O pavilhão 09 estava controlado pelos presos para o acerto de contas entre eles. Na gíria carcerária, os manos dizem “a casa virou”.
Nesse momento e que começa a surgir à figura de Coronel Ubiratan Barbosa, Comandante do Policiamento Metropolitano que tomou conhecimento dos tumultos por meio do rádio do Comando de Policiamento (Copom), que havia sido avisado pelo Ismael Pedrosa, Diretor da Casa de Detenção.
Ubiratan Barbosa pede auxilio ao Comando do Policiamento de Choque de São Paulo, Tenente Coronel PM Luiz Nakaharada, que envia reforço. O coronel Ubiratan se reúne também com os juizes Ivo de Almeida e Fernando Antônio Torres Garcia para avaliar a situação. Ubiratan conversa por telefone com o então Secretário de Segurança Pública, Pedro Franco Campos, que entra em contato com o Governador do Estado de São Paulo, Luis Antônio Fleury Filho. Às 14h51, avalia-se que a situação é grave e é oficializada a passagem do comando da decisão para a Polícia Militar. Autoridades superiores a Ubiratan avaliam a necessidade de uma invasão à Casa de Detenção. Às 15h30, a tropa de choque, sob o comando do coronel Ubiratan, estaciona do lado de fora da muralha.
De acordo com a pesquisa feita por Sandra Carvalho e Evanize Sydow, a denúncia oferecida pelo Ministério Público, apesar do grande tumulto e de sinais de fogo, não havia risco de fuga. Com a chegada da Polícia Militar, muitos presos começaram a jogar estiletes e facas para fora, evidenciando que não resistiriam à invasão. Alguns colocaram faixas nas janelas, recomendando um pedido de trégua.
No entanto, autoridades reunidas decidem que antes da invasão da pavilhão 09, o diretor da Casa de Detenção iria tentar a ultima negociação utilizando um megafone. Entretanto, soldados do Grupo de Ações Táticas Especiais quebram o cadeado e correntes do portão do pavilhão 09, enquanto o coronel Ubiratan se reúne com os coman­dantes dos 1º, 2º e 3º Batalhões de Choque da Polícia Militar. Não houve negociação alguma. As tropas da Polícia Militar afastaram Ismael Pedrosa do caminho e, às 16h30, invadiram o pavilhão 9 sob o comando e instrução de Ubiratan Guimarães, ação que seguiu até as 18h30. Trezentos e vinte cinco policiais militares ingressaram no pavilhão 09 sem os respectivos distintivos e crachás de identificação.
Segundo o depoimento dos próprios policiais envolvidos na ação, exceto o depoimento do coronel Ubiratan, os mesmos partiram para os andares superiores. Não foi permitida a presença de autoridades civis durante a invasão. Indaga-se: Porque?
A maioria dos presos foi para suas celas, onde muitos foram mortos. No entanto, os PMS que invadiram o local, dispararam suas armas contra os presos, (muitos deles estavam portados de metralhadoras, fuzis e pistolas automáticas), atiraram visando principalmente a cabeça e o tórax. Alem das armas, foram utilizados cachorros para atacar os detentos feridos. Resultado: foram encontrados 111 detentos mortos: 103 vítimas de disparos (515 tiros ao todo) e 8 mortos devido a ferimentos promovidos por objetos cortantes. Não houve policiais mortos. A ação resultou, ainda, em 153 feridos, sendo 130 detentos e 23 policiais militares.
Após o massacre realizado por policiais, estes imediatamente iniciam o processo de destruição e remoção de provas valiosas que teriam posteriormente possibilitado a atribuição de responsabilidade pelas mortes a indivíduos específicos. No entanto, não foi isso que aconteceu, o acesso de civis aos andares superiores do Pavilhão 09 ficou impedido, enquanto a PM dava ordens aos detentos para que removessem os corpos dos corredores e celas a fim de empilhá-los no 1° andar. As atividades da perícia foram atrapalhadas pela quantia alta de cadáveres e pela limpadura feita no presídio pelos policiais militares e a remoção ilegal dos corpos ordenada pelos oficiais.
Com o trabalho extremamente dificultoso, a perícia concluiu que só 26 detentos foram mortos fora de suas celas. Os presos massacrados foram atingidos na parte superior do corpo, em regiões fatais como cabeça e coração. Os exames de balística informam que os alvos sugerem a intenção premeditada de matar. Números dessa pesquisa revelam que um detento tinha 15 perfurações de disparos de arma de fogo no corpo. No total entre os 103 mortos, a cabeça foi alvo de 126 balas, o pescoço alvo de 31, e as nádegas levaram 17 balas. Os troncos tiveram 223 tiros. Os laudos periciais terminaram por concluir que vários detentos mortos estavam ajoelhados e deitados, quando foram atingidos. Diante de tanta brutalidade, muitos detentos se jogaram sobre os corpos que estavam no chão, se fingindo de mortos para conseguir sobreviver.
Ubiratan Barbosa foi acusado diretamente por 102 mortes. Mas foi absolvido, utilizando o argumento que agiu no "estrito cumprimento do dever" ao dar a ordem para que os policiais militares invadissem o pavilhão 09 do Carandiru.
Mas hoje não está aqui para se defender deste caso.







































[1] Fonte de pesquisa: “Massacre do Carandiru, Chega de Impunidade”, elaborado pela Comissão Organizadora de Acompanhamento para os Julgamentos do Caso do Carandiru

Eleições 2006 e crise na segurança

Desde que os ataques do PCC tiveram seu início em 12 de maio, o Estado de São Paulo viveu momentos penosos para tentar justificar o acontecido. Como é sabido, era época de eleições e a cena atual foi os ataques promovidos aos olhos do Estado que se eximiu e disse “tudo estava sob controle”. No entanto, o que se viu foram ataques cada vez mais freqüentes aos que supostamente deveriam oferecer segurança às pessoas.
Os ataques a ônibus, bases da polícia militar e da guarda civil demonstraram toda a fragilidade da Segurança Pública do Estado de São Paulo. Neste sentido, os ataques ganharam outra configuração, desta vez quem atacou foram os políticos de governo e oposição em face da dramática impotência do país frente ao crime organizado; trocaram ofensas e acusações que chegaram a beira do delírio, além de apontarem soluções inúteis – porque não sabiam mais o que fazer.
Pouco importa a população se a crise da segurança é Federal, Estadual, Municipal, Petista, Pefelista ou Tucana.Antes os fatos, o que importa é compreender o que parece difícil.
No bate boca eleitoral, o então candidato a reeleição presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva, (PT) (hoje reeleito pelo povo) disse que a situação do Estado de São Paulo “é de pânico e que nada pode fazer enquanto o governo paulista encará-la como normal” Lula criticou a resistência paulista em aceitar a ajuda federal. Segundo ele “os bandidos estão provocando a polícia, estão provocando a sociedade civil e estão aterrorizando”. Neste contexto de briga eleitoreira, vemos de tudo, CPIS que se apresentam no longo processo de análise, críticas, críticas e nada se resolve.
Apesar das críticas feitas por Lula em relação à segurança pública de São Paulo, Geraldo Alkimim (adversário de Lula nas eleições) tentou nacionalizar o problema da segurança.
Nessa guerra civil eleitoreira, surge a figura de Jorge Bornhausen – que é o articulador da candidatura de Alkimim nas eleições.
Em notícia publicada no jornal folha de São Paulo, no dia 15 de julho – Bornhausen disse que desconfia de elo entre o PT e PCC. Segundo o senador “o PT pode estar manuseando essas ações”, e ainda diz, “o PT vive no submundo e nada mais me surpreende nesse partido”. “o PT vive no submundo de Santo André (onde o prefeito Celso Daniel fora assassinado) vive no submundo do mensalão (acusação de pagamentos de votos no congresso), vive no submundo do MSLT (movimento dos sem terra que invadiu e depredou o congresso, cujos líderes estão sendo denunciados). Então tudo é possível, nada seria surpresa, salienta o senador”.
Para fugir dos debates sobre a crise Paulista – o ex-governador Geraldo Alkimim tentou esquivar-se ampliando sua agenda de viagens, evitando dessa forma que o debate sobre segurança pública se monopolize.
De todo o acontecido, o que se vê são discursos beirando o delírio. Enquanto isso o poder do PCC amplia sobre a esfera pública que se recolhe em pífias desculpas, demonstrando o que eles não sabem fazer.
É o velho discurso de manter a cautela. Mas...nada se resolve!






















sábado, 19 de abril de 2008

Vida

Vida que vai e vem, vida que nos leva, nos devora, nos estiola, nos força, nos toca, enfim, vida que faz perder o viço, enguiço...Vida, muitas vezes vida, escamoteia, anula todas as possibilidades de vida, vida que nos desnorteia.
Às vezes, a vida que levamos parece não ter sentido, as coisas que fazemos, os planos feitos, tudo cai por terra e, o que acontece? Permanecemos na eterna ignorância de não saber.
Se vivêssemos mais junto dela, quiçá poderíamos compreendê-la, mas, viver a vida não está sendo a própria vida. As exigências do cotidiano nos fazem perder este jogo, a luta cruel do dia a dia nos ameaça a todo instante pela incerteza do amanhã e muitas vezes perdemos oportunidades num lapso de segundos, um sorriso, um toque que nos ofereça conhecer melhor, enfim, dar substância à vida. Este imenso amor que é a vida está em detrimento do possível; ou seja, num primeiro momento busca-se a vida, no segundo tenta-se alcançá-la.
Mas nunca a temos.
Só sobrevivemos.
Assim sendo, a sociedade do espetáculo, consumista e muito preocupada com a economia não tem tempo para a vida. Pois a vida é dinheiro e é preciso ganha-la! É nesta corrida em busca é que tornamo-nos mais pobres de espírito em avaria do consumo desenfreado que nos prepara para a produção de bens que pouco tem preparado para o exercício da saúde, temperança e; sobretudo, Vida.
É extraordinário como nós não nos percebemos, como seres dotados de intuição, criatividade e invenção. Nos dias de hoje é muito mais fácil manter a disciplina, reforçando a repetição de uma linha de montagem.
Nesta dialética da vida, não se sabe realmente o que fazer. Como um dia disse Nietzsche – “atacar as paixões pela raiz significa atacar a vida pela raiz”.
Se vivêssemos perto da vida, não faríamos isso, aprenderíamos a vive-la...

São Paulo, junho de 07

quinta-feira, 17 de abril de 2008

I

Porque quando não se vê
Sente-se falta?
os olhos delatam os sentidos
As lágrimas, o pranto, a dor...
parco sentir!
por...
ausência do que não temos,
num constante devir...

II

Este peso que se funde tão de repente vem e me leva constantemente a vários locais antes nunca vistos, é apenas uma imagem que se imprime em mim de forma branda e tranqüila como as brincadeiras que percorrem minhas veias feito criança, o tempo, velho tempo, ele brincava comigo, me enganava, deixava-me atordoado, sem sentidos e sem reflexo, mas aquela imagem posta é demasiado efêmera, era um tempo só de esperas que provavelmente invadia-me por inteiro, brando ouvir claro como imaginários sem sentidos em pequenas e cálidas palavras que me despertava na gravidade d’um julgamento áspero “eu estou ficando louco!” era puro corrosivo clamor que me abandonava na busca de máscaras incríveis em minha face, levando-me a preâmbulos do início de alguma coisa descrente..
Que loucura é essa que fizestes?
Levar este singela palavras pra dizer que os momentos efêmeros da vida são tão raros quanto ao sabor distante que vem e contem lembranças infinitas de instantes transitórios.
É o velho tempo!
Tempo, tempo de te conhecer, ainda que muito breve; gira feita uma roda viva, moinho que se quebrou num instante nas voltas que se deu entorno sabe-se lá do que! Era tempo de aprender sapequices , uma grande lição que não se aprende na escola. Tão de repente, lentamente invadiu a alma no tempo vazio e útil de destruir.

sábado, 12 de abril de 2008

Revolta Natural

“Yo no protesto por mi porque soi muy poca cosa, reclamo porque a la fosa van las penas del mendigo. A Dios pongo por testigo, que no me deje mentir,no me hace falta salir um metro fuera casa pa ver lo que aqui nos pasa y el dolor que es el vivir” (Violeta Parra)

A natureza mundial esteve em fúria. O tsunami, os furacões em New Orleans, os terremotos, os mortos e o desespero das crianças tornaram-se cenas freqüentes nessa revolta natural que propiciou uma desgraça incalculável para o desespero das mães e a impotência das autoridades face ao problema enfrentado.
Houve várias tentativas de explicar o acontecido, os religiosos disseram que tudo que aconteceu foram castigos de Deus pelos pecados cometidos pelos homens: homossexualismo, prostituição, abuso de drogas e etc.
Muito se pensou sobre essas revoltas, muitas rezas foram inúteis e a negligência de Bush frente aos furacões em New Orleans aumentou ainda mais a indignação dos oprimidos face ao acontecido. Para maior revolta daqueles que possuem o compromisso efetivo com os “condenados da terra” é lamentável ouvir o presidente norte americano declarar que obedece “as ordens que Cristo lhe dá em suas conversas matinais”. Quando os poderosos evocam o nome de Deus para justificar suas ações é certo que os oprimidos sofrerão. Não existe nada mais perigoso quando um opressor julga estar ao lado de Deus. E preferível estar ao lado daqueles que não acreditam em Deus; quem sabe, suas justificativas possam ser mais coerentes.
Seria melhor que Deus enviasse suas pragas aos que o invocam em nome da opressão e do terror: os presidentes, generais, fabricantes de armas e etc.
Atitudes como essas –, de usar Deus como projeção para suas justificativas, é estar lado a lado do neoconservadorismo que predomina em sociedades cada vez mais intolerantes que buscam ações defensivas sem nada mudar, para consevar o Status Quo.

São Paulo, fevereiro de 06

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Borboletas

“Viva as borboletas coloridas, que nascem da fumaça preta!” (Cleiton Muniz)

Quando abri os olhos vi uma borboleta agitar-se pra lá e pra cá perto de minha barraca, cena que não imaginava ver tão repentinamente, ao mesmo tempo que, múltipla e imóvel se encontrava, semelhante a um objeto de amor contido em meu desespero de olhar aquele inseto aflito, comovido naquela noitezinha de espera, de desespero num devir constate, conturbado de múltiplas faces que se olham descontinuamente...
Suas asas são coloridas e ficam elevadas, perpendicularmente em relação ao corpo, quando a borboleta pousa, sua crisálida não é protegida pelo casulo. O fato é que a parcos passos vejo que ela possui algumas cores, não sei como defini-las; inconstante, airada, volúvel, ai que dó de mim!
Depois de esvoaçar assaz em torno de mim, a borboleta ficava ali parada no cantinho da barraca se movimentando lentamente, contudo, não conseguia avistar aquela longa distância desvanecendo-se incertamente em meus olhos, e soube-me conservar naquele casulo que se foi proliferando aos poucos em meu corpo; feito uma metamorfose ambulante, saí de lá e encontrei seu Antônio pela cozinha a preparar algo pra comer “mas menina, o que está fazendo aqui a estas horas na cozinha?” disse-me diretamente; olhava pro seu Antônio sem nada falar, meu gesto é miúdo, moído e pequeno na tentativa de dizer alguma coisa “estou procurando algo pra comer...”.
“Tome, coma bem”.
O gesto brando de seu Antônio começou-me a mover asas de volta pra barraca, acho que estava sendo pupa! E quando volto rapidamente vejo ela ali parada, a borboleta esvoaçando pra lá e pra cá em vários movimentos inconstantes; a fato é que aquele escárnio estava me aborrecendo a ponto de pegar um pano e jogar em cima dele, mas não conseguia acertar-lhe, e este movimento se repetia diversas vezes até que num acurado momento a acertei, e ela caiu.
Confesso que senti-me aliviado com o acontecido.
Sem piedade, peguei-a levemente e joguei pra fora da barraca e deitei-me novamente...mas ela não caiu, seu corpo se torcia mansamente na busca de vida, e quando dou por mim não a vejo mais num expiro de segundos.
“Mas que diabo de cor é esta borboleta?!” pergunto-me.
Não havia entendimento sobre o visto, diante disto tento dormir pra esquecer esta maldita borboleta que vem e me atormenta a todo o momento...mas perece que é pura pachola, se não fosse então, o que seria? O fato é que ao dormir, ao fechar os olhos, vinha em minha mente a imagem daquela borboleta voando pra lá e pra cá sem parar, configurada numa insensata agitação que é-lo de matar qualquer um!
Quando dou por mim, meus olhos estão mais do que acordados, leves, abertos até o último momento de balanços de sua ingenuidade que minguam no ambiente de nevoeiro incolor.
“Mas que diabo é a cor desta borboleta” pergunto-me novamente.
Sem saber o que fazer, e com dores demasiadas insossas, ao impulso da tranqüilidade que me carrega docemente, saí novamente da barraca e comecei a andar pelo jardim tentando esquecer aquele momento boçal que me incomodava feito o mistério de não saber nada do acontecido; a coisa que estava ali parada e que não tinha definição era um volumoso interstício de intervalos descontínuos que desaparecia parcamente ao alvor dos olhos; não sabia o que fazer, mas tinha medo daquela visão desorganizada que invariavelmente profunda dava-me segurança de aventurar-me no desconhecido; soneguei mexer no que encontrava-se estático, por isso voltei novamente a cozinha e dessa vez não fui comer nada, apenas acendi um cigarro e sentei na cadeira de balanço e por lá fiquei com minhas tragadas desafiando as horas compridas repleta de viuvez, revivendo instantes efêmeros, acalentado risadas do dia junto aos amigos, que inconfessáveis, eram as melhores companhias independente do arzinho pomposo que outros locais traziam.
Meu cigarro esfacelava-se a cada tragada, mas isso não era problema nenhum, aliás, o que havia de importante naquele momento a não ser estar neste local maravilhoso? Queria esquecer as coisas práticas do dia a dia que matava-me só de lembrar: ah...responsabilidades! ai que dó de mim!
Já se passavam das três horas do manto escuro que nos cobre diariamente, foi quando num inesperado momento, Fátima, esposa de seu Antônio, surge na cozinha e me vê na cadeira de balanço folgadamente fumando um resto de cigarro “mas o que faz aí meu filho? Está pensando na vida? Na namoradinha que deixou em casa? Rindo levemente ela balança a cabeça negativamente, ah, esses jovens de hoje...o que querem da vida?”.
Única coisa que faço é olhar pra Dona Fátima e dizer “veja, quer coisa melhor do que isso? Contemplar esta noite, as estrelas, este ar puro e estas pessoas? Pra mim não há coisa melhor do que isso, ficar por aqui, jogar um xadrez, jogar conversa fora, beber uma cerveja...é a vida que gosto de levar; vagabundo incondicional!”.
“Você fala isso por que não fica o ano todo por aqui, está acostumado com a corrida diária de sua cidade, e quando o cansaço atinge níveis extremos, procura um local mais aconchegante pra descansar...”.
“Esqueçamos; ouça o som do mar, não é maravilhoso?!”.
“Tem outra coisa que você não prestou atenção?”.
“O quê?”.
“Os ventos; eles são imperiosos e ao mesmo tempo delirantes....senti-los próximo dos ouvidos, como se quisesse dizer alguma coisa é encara-lo de forma branda e tranqüila seu envaidecer...”.
“Realmente é muito belo”.
Depois de tanta conversa, Dona Fátima olha-me dos pés a cabeça como se a seriedade tivesse a vez no momento e disse”que mal lhe pergunte, desculpe, mas não tenho nada a ver com isso; mas...está com sono?”.
“Um pouco...é que na minha barraca tem uma borboleta que está incomodando-me mansamente”.
“Mas são difíceis borboletas ficarem por dentro das barracas...?”
“Eu consegui expulsá-la, estou apenas fumando um cigarro”.
“Excelente, boa noite pra ti”.
“Igualmente Dona Fátima”.
No extremo deste pequeno lugarejo, os ventos nos oferecem, em contraste, suas riquezas, refiro-me a estes silêncios repletos de contorções nuamente construídas ao longos dos tempos, não havia preocupações nem tampouco rematar a aventura dessa densidade de cores que esvaeciam aquelas cores elusivas de velho desbotado de desfalecimento, ai que dó de mim!
Que pachola!
Uma graça casta!
Meus olhos restituíram de consolação com o equívoco daquela borboleta que voejava novamente...um delito virginal que rodava minha cabeça, ao meu corpo balançar, como se faltasse apoio do solo, cujas ramagens retorcidas escapavam-me ao salto dos olhos; tentei alcançar mais adiante, com as mãos que se pôs a girar suave coisa nenhuma em grande velocidade.
Que pachola!
Ai que dó de mim...

Barra do Una, janeiro de 08

É por pensar em crianças...

A criança indaga, em seu silêncio de desesperança e alento. Grita, diante da pretensa evidência de que ela não pensa. Há outros que pensam por ela...
A criança ainda indaga, devido ao fato de que ela nunca foi ouvida. Seu gesto de desespero é uma resposta de que outros querem ouvir. Ao sentir o grito da falta de esperança, de desalento, de penúria, eles vêem o que tem que pensar e agir por ela...
A criança vai ao mercado com seus pais e lá eles dizem “O que queres meu filho (a)?”. Os pais ouvindo a resposta da criança dizem “Não!, isso não, você é muito pequeno para isso!”.
Dessa maneira é que se configura o pensar para o outro, onde quem tem o poder da ação não é o sujeito que carece e sim o sujeito que é o tutor deste. Neste jogo de pensares, a criança muda e telepática continua muda em seu espanto de que ela é a estúpida, quem não pensa.
A criança quer brincar, quer jogar bola, jogar taco, dado, enfim, a criança quer se expressar para o mundo, desenhando, lendo, escrevendo, mas, quem pensa por ela não vislumbra seu anseio. Por isso que, a criança continua sendo infante, mas o infante quer falar diante da pretensa evidência da instituição que pensa por ela, num gesto que se configura em ordem social, miséria, opressão e terror. Enfim, são eles que manuseiam as leis, os pensamentos, a matéria prima da fantasia que sonha em fazer o existir ter sentido.
Por mais que há intelectuais, políticos, pensadores da educação, comprometidos, sobretudo com elas, alguns fazem delas lixo que mal ouvimos. Além de colocá-las na forma de negligência, discriminação, exploração e crueldade sem antecedentes.
Quando se pensa nestes pequenos “Condenados da Terra”, há um panorama que descortina toda realidade social desses pequenos operários no mundo, onde a criança vive sob a servidão do lucro. São crianças que nunca ouviram falar em infância, que ignoram o lazer e não freqüentam a escola.
Neste bojo, podemos vislumbrar um pequeno retrato social de nosso Brasil arcaico que ainda predomina o acerto de contas.
No Nordeste Brasileiro, as crianças estão em várias atividades. A colheita de cana de açúcar é a principal atividade onde a criança está submersa. Os Estados do Ceará e de Pernambuco, juntamente com o Rio de Janeiro, são os recordistas na exploração infantil nos canaviais. Nesta atividade, as crianças cortam cana e suportam o peso de sacos da planta e correm o risco ate de sofrerem mutilação. Apesar disso, não trabalham menos de dez horas por dia, permanecem expostas ao sol e praticam o serviço sem proteção nenhuma.
Neste jogo do ódio, permanece a interstício da realidade de nossa cortina social, na cultura do fumo em Alagoas, na colheita da uva em Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Bahia e Sergipe e nas pedreiras de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba.
Na Região Sul, que ao lado do sudeste, é considerada a mais rica e adolescida de pequenas crianças mudas e telepáticas. Só nesta região, há 21 atividades para esses pequenos infantes. No Estado do Rio Grande do Sul concentram-se 11 atividades. A extração de acácia ametista no Rio Grande do Sul, pelos infantes são as mais impressionantes. As crianças lavam as pedras de ametista com produtos químicos tóxicos sem proteção alguma. Além disso, ficam expostas as fuligens da máquina de lixar a pedra e padecem com o peso do minério das minas até o local de beneficiamento.
Na Região Sudeste, torna-se comum ver crianças correndo atrás da vida em faróis, comércios, supermercados. Em São Paulo, nas regiões periféricas, crianças são vistas catando lixo, em feiras, supermercados e dali tiram o sustendo do dia. Situação essa que não se difere na zona urbana do Estado do Mato Grosso.
Já na Região Centro Oeste, a cortina continua a se abrir. Em Goiás, crianças trabalham duro em jornadas que não duram menos de 10 horas diárias na colheita de algodão, tomate e alho. O mais impressionante é as olarias, onde as crianças começam a trabalhar as 04hs00 da manhã e vão ate as 17hs00 horas.
Essa é a verdadeira síntese da exploração, violência e discriminação do mundo onde a criança grita e se desespera, indaga, em seu silêncio de desesperança e alento.
Muitas vezes, esse silêncio é composto sozinho, cuja manipulação de pensamento é variante para o pensar para desse pequeno infante. Muitos pensam e agem para ela (a criança), e não pensam com ela, ignorando dessa forma sua voz (que nunca foi ouvida).
Portanto, nesse jogo do terror, a criança é o novo escravo da servidão humana, onde a sociedade que fala em liberdade, prende-as em verdades que mal são divulgadas.
Essa é a matéria prima que governa esses “condenados da terra”, onde a esperança é aquela que é inexistente. Para elas, a esperança é quimera.
Essa é a síntese social onde a criança é pensada, planejada por saberes e por práticas de instituições que as capturam. Nesse jogo de horror, a criança encontra-se enjaulada, de forma que em seu silêncio de desesperança e de medo, ouvimos seus gritos na tentativa de enjaulá-la. Criando dessa forma homens do século XXI: Útil, mudo, solitário, eficiente e portador da síndrome do pânico.