quinta-feira, 24 de junho de 2010

A cegueira de Saramago


Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
(Livro dos conselhos)

Estou cego! Não vejo nada! Onde estão as pessoas? E os carros?

Esta palavra é apenas o prenúncio desesperado de uma pessoa que perde a visão na cidade. Mas que cegueira é essa, onde as pessoas enxergam uma cor branca de leite e não a negritude da escuridão. Certamente não é uma simples cegueira. Saramago sabe disso.

Vejamos.

Muitos carros nas ruas, o farol amarelo ilumina-se, em seguida, o vermelho. Mal fecha o farol, e as pessoas atravessam desesperadamente a faixa de pedestre, enquanto isso, os motoristas dos carros pisavam sem parar nos aceleradores demonstrando pressa. Ao abrir o sinal verde para os carros, os carros saem rapidamente, quer dizer, nem todos, um permanece no meio do caminho, tal como a pedra de Drummond, aquela lá que já sabemos. As pessoas se irritam com o carro parado, mas ninguém desce do carro para ver o que acontece. Num momento inesperado, um homem desce de seu carro para ver o que acontece com o cidadão.

O que acontece? – Disse o homem.

Estou cego. Respondeu secamente.

Como assim?! Perguntou o homem sem entender a fala do cego.

Ora! Estou cego e não enxergo quase nada.

Após esta fala, o cidadão resolve levar o homem para o hospital mais próximo da cidade. Ao chegar ao hospital, o homem é levado rapidamente ao atendimento e o cidadão caridoso que o socorreu, desaparece.

Ao voltar para a rua, nota que várias pessoas estão com os mesmos sintomas do homem recém internado. Ora essa, o que acontece? Parece que vi há pouco esta cena. Sem saber o que fazer, o homem dá uma andada na rua e vê duas pessoas conversando sobre o fato.

Que cegueira? Sabes do que se trata? Não sei.

Saramago sabe. Vejamos:

“Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.”

Talvez esta cegueira que Saramago nos diz, deva ser a cegueira contemporânea em várias instâncias de nossa sociedade.

sábado, 5 de junho de 2010

Um dia vai ser


pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

*Mosaico de Cida Carvalho
*Poema de Paulo Leminski