segunda-feira, 29 de março de 2010

I

Numa visão esmerada, descomedida e acalentadora da realidade pros canto dos muros; encontrava-me quietinho em meu quarto com um olhar enviesado não se sabe pra onde, sabe-se apenas que era um esfacelado contemplar conotado d’uma tranqüilidade, ainda que um bocadinho bem longe; esta tenra imagem posta em esquadros longínquos; é uma imagem insípida d’um lugar de múltiplos olhares cujo cansaço não se enfastiava de fitar aquele montante de embaraço distorcido e doente, típico dos neuróticos que se cansam e se revoltam contra ela, faceta excessiva de imagens que deixam os olhos oblíquos e estrábicos de tanto olhar este lugar que pouco se conhece, que não é familiar e que de certa forma não se sabe qual é! Isto deixa-me feito um pássaro fora de seu ninho, aos poucos, sem perceber, meu berço se distanciava tranqüilamente...
Com tanta vozoeira; o quarto é apenas uma janela realizada por minhas mãos calmas, serenas e leves, quiçá um fluxo de gente grande e de carros semelhante a um filme que já havia assistido, mas que nunca tinha fim, na constante volta de olhares fixos da janela que estava por fora dela e que não havia interior, não sabia que interior exatamente; acho que era apenas uma tentativa desesperada de caçar algo, fisgar um peixe grande, portador de imensas dificuldades, mas o fato é que a todo instante estava lá, olhando as ruas, as pessoas e todo o movimento que por existir nos cantos que solam os sons a despir sentimentos pras pessoas, mas que besteira este movimento intrínseco, uma música invasora d’a alma e que pouco conhece de tudo, era puro sentido, um devir possuidor de esferas nucleares prontas para explodir em qualquer canto; (como elas são difíceis!), não conseguia nada, encontrava-me à flor da pele e a cada mover que surgia nas pessoas, não sabia como fazer, nada era supérfluo, apenas uma constância de resistência ligeira que esquiva dos cantos que acolhem esta casa possuidora de instantes resolutos, face ao teto que eleva miudamente algures antes nunca vistos naquele lugar amolador de delírios, de loucura, de estar vendo todos os momentos que se passam na vida, com as velhas fotografias que tiramos ao longo dos anos. Que nostalgia traz vislumbrar o que ainda não vi, paralisar o momento; deixá-lo etéreo na soma de imagens infinitas longe demais das capitais; bastava apenas um toque e pronto, lá se prontificava; estático, movido em dias como a água que bebo e que me fez realizar por inteiro, uma volúpia efêmera de instantes duradouros que resgatam a pequena lembrança de ver a realidade e sentir que não é possível transformá-la, é triste demais; pois às vezes tenho a leve percepção de que não é possível mudar nada; e que é melhor pensar pequeno, esquecer as grandes coisas, não obstante, fico a pensar algures que possa ser mudado, neste instante, vejo apenas estes intercedidos no meio do caminho, em meio a pontas e curvas das dificuldades que a vida proporciona, - configurando em si uma luta que desde cedo inicia para quem está a buscar a vida a todo o momento, a vida não para, é tão rara que o que pensamos ser, parecem às mutações decorrentes em nosso intrínseco.
Mas, vejo que minha pobreza é abissal e não consigo deslembrar por todos os cantos que olho; vejo pessoas débeis procurando o que comer, lutando por seu pão, sobretudo, pela vida que derruba diariamente as pessoas que não conseguem um dia chegar aos sonhos que acham possíveis, elas estão tristes em demasia e com isso, acabam desistindo de viver pelo fato de que “a vida não dá chance”, é como um triste canto fúnebre, pensar como pobres mortais que somos e carentes do puto que romba o correr miudamente nos pequenos cantos que aos poucos se liberam em faze-lo...Ah, que dó! Ver nesta inércia isolante o que só faz movimento de olhares de vida alheia,
Que dó!
A dificuldade de todos os dias é como a loucura que percorre lugares que não se sabe pra onde vai, não corre e nem fica pra trás, e é assim justamente o que acontece cá neste cantinho pouco diferente do lugar que antes vivi – quer dizer, - não é plausível fazer comparações, é melhor deixar de lado essas bobagens que não levam a lugar nenhum, nem tampouco a algum movimento.
É melhor voltar aos instantes pascidos e não ficar em cima do muro...

* Trecho do livro: Moinho d'um tempo, de Marco Rodrigues










terça-feira, 16 de março de 2010


Suspenso, suspenço, suspensu, ou sunspençu?



segunda-feira, 8 de março de 2010

(...)

I
Na ausência de dormir,
a hora de partir,
no instante de ter,
a hora de perder,
Entre ponteiros e arvoeiros,
não há sineiros,
somente,
Caeiros...