domingo, 31 de julho de 2011

Sobre amar

Amar é muito importante para qualquer desenvolvimento espiritual ou intelectual. Isto é um fato, mas como todo fato, há os que são contra e conseguem transformar este doce fardo[1] simplesmente em dor e sofrimento. Será mesmo necessário sofrer tanto para se ter amor? Evidentemente, esta postura metafísica que me faz lembrar a penosa busca de Dante a Beatriz possui fortes resquícios nos dias de hoje. Mas, quem em sã consciência se ajoelha a tais dogmas? Há pessoas que seguem a manada e não sabem sequer o destino. Dissimulados em si mesmos, não se questionam um instante e semelhante a Janus, marcam as portas de entrada e saída com o mesmo caractere, o verdadeiro e o falso.


[1] Heidegger

quinta-feira, 14 de julho de 2011

V

Desde o princípio soube destes acontecimentos, não muito claros, e às vezes escuros, tentava os entender na mais correta circunstância desaparecida. O problema foi que ao invés de encontrar, me perdi, e nada permaneceu dentro deste ser que tenta buscar alguma coisa.

Já sei! Migalhas! Migalhas ao vento!

Talvez esta seja a única resposta que eu tenha dentro de mim, mas não sei se esse eu é tão sério assim. Aquela idéia inicial, repleta de contradições e que todos reclamavam, tentei abandoná-la, mas, ela persiste em me seguir como uma sombra que não desgruda ao menos um segundo.

Saia de mim tentação! Desapareça! Deste jeito, eu não sei se eu estou neste mundo de fato, ou sou apenas uma peça nesta engrenagem enorme que engole milhões todos os dias. Este tormento, de não saber nada, e que de fato às vezes se sabe, o que parece até uma apologia da ignorância, me persegue, e aqueles que estão ao meu lado irritam-se, dizendo que tais confusões são frutos de devaneios que não faz sentido.

Ora bolas, os devaneios não fizeram sentido em muita gente? Por que raios tenho de justificar-me com o alheio? Tenho pouca coisa a oferecer, talvez, em milésimos de segundos elas se mostrem em instantes profundos, em clarões que me fazem entender aqui ou acolá como um todo dentro de mim. Estas coisas desaparecem como nuvem passageira.

Quando um dia souber ao menos aquele milésimo de segundo, verei um monte de coisas confusas e difusas, como o combate ao sofrimento, alegrias e dor. Quando encontrar-me em mim todas estas coisas, não serei mais eu, e as camadas de minha carne, as zonas de dor, os feixes sobrepostos estarão nos recônditos da incerteza de meu grito. Então, procurarei outro problema qualquer, desde que seja para iniciar novamente este ciclo repleto de feixes desfigurados neste interior.

Combaterei tudo novamente! Até as migalhas jogadas ao vento. Não sobrará nada de nada! E assim, aqueles acontecimentos serão grãos de areia desfalecendo em minhas mãos repletas de dor. Até chegar lá, outros lugares estarão abertos e novos clarões serão extensões do que vejo perante os meus olhos. É neste ponto de partida muito curioso e estranho que meu corpo se ilumina, em um doce fardo que se mistura em um monte de componentes aparentemente desconexos que deixam-me incerto de sentir a força dos sentidos das camadas de minha carne, atravessadas em zonas e feixes de dor.

Assim, corro e volto ao mesmo lugar.

*Desenho. Claudionor Rodrigues!