sábado, 31 de julho de 2010

O saber científico

“Quais tipos de saber vocês querem desqualificar no momento em que vocês dizem ser esse saber uma ciência? Qual sujeito falante, qual sujeito discorrente, qual sujeito de experiência e de saber vocês querem minimizar quando dizem: ‘eu, que faço esse discurso, faço um discurso científico e sou cientista’?” (FOUCAULT, 1999: 15)


Os cientistas, estes que lidam com o conhecimento puro e verdadeiro, são tidos como entidades superiores, quase que inquestionáveis em seus saberes. É simples notarmos como tais saberes proliferam como mecanismos de verdade na sociedade contemporânea. Recentemente tivemos um problema que inicialmente foi denominado como Gripe Suína, pouco tempo depois a nomenclatura mudou: Gripe H1N1. Quais as razões de tal mudança? Poucos sabem. O fato é que após o surgimento desta gripe (seja qual for o nome dado a esta), diversos médicos começaram a recomendar que as pessoas usassem álcool gel. O que aconteceu? O álcool gel sumiu das prateleiras e as empresas que fabricam tal produto obtiveram lucros extraordinários: escolas, hospitais, locais de trabalho e demais lugares fechados, ali se encontrava o álcool gel guardadinho para uso e prevenção contra a tal gripe. É notável como tais discursos repletos de autoridade se espalham na sociedade, claro, com a ajuda dos diversos mecanismos de mídia, onde a notícia que busca informar o cidadão nada mais faz do que reforçar a autoridade científica perante os fatos acontecidos. O que ocorre após a fala de uma autoridade prescrevendo o que deve ser feito? É óbvio! Todos seguem às prescrições médicas.

Passados uns tempos, onde ninguém mais falava da tal gripe, que, diga-se de passagem, fez-me lembrar a obra La Peste de Albert Camus, tudo voltou ao normal. Ou seja, parece que a gripe morreu, pois ninguém fala no assunto e algumas pessoas deixaram de seguir tais regras prescritas. Ora, o que acarreta este pequeno exemplo? Só mostra como o saber científico é apenas um conhecimento repleto de determinantes e funções na sociedade[1]. Lembremos o que o conhecimento científico produziu: Auschwitz, Hiroshima, Nagasaki. Ora, que ciência é esta que produz tais efeitos? Tais perguntas interessam verificar o papel dos intelectuais enquanto agentes ativos no desenvolvimento de teorias para o tão famoso progresso humano. Neste sentido, é também interessante verificar as pesquisas sobre Inteligência Artificial, que há um bom tempo estão sendo desenvolvidas. Aliás, os cientistas que lidam com isso, acreditam que possamos ter um computador que pense semelhante aos humanos, um computador poderá afirmar que está feliz, mas não poderá sentir isso (acho que estes cientistas andaram assistindo O Mágico de OZ!). É difícil acreditar em tais afirmações, não no avanço da ciência computacional, mas, diante do avanço do estudo do cérebro, microbiologia e da química dos neurônios; estes estudos trazem a luz não as possibilidades de um fantástico computador, ao contrário, revelam uma ciência que traz novamente o fantasma de Auschwitz, Hiroshima, Nagasaki e que muitos intelectuais envolvidos neste sistema, acreditam trazer o tão famoso progresso a sociedade.

Que Auschwitz, Hiroshima, Nagasaki não voltem às páginas dos jornais sob a face de um computador maluco comandando várias ações!



[1] Um exemplo interessante acerca do assunto é sobre a bomba atômica. Em seus estudos sobre energia nuclear, Einstein tinha plena consciência que havia a intenção de utilizar a energia nuclear para fins militares, pois o Ministério da Defesa americano arcava com os custos de suas pesquisas, no então Projeto Manhatan. Ele só não contava com dois fatos: o primeiro é que viesse a estourar uma Segunda Guerra Mundial e o segundo é que em algum dia essa energia fosse realmente utilizada para fins de destruição em massa. Ele também conhecia bem os efeitos da bomba de urânio. Einstein enviava freqüentemente cartas ao presidente Roosevelt informando-o sobre o progresso do projeto e solicitando recursos humanos ou instrumentais quando necessário. Também solicitava materiais radioativos e informava o governo sobre seus efeitos. Após o lançamento da bomba atômica em território Japonês em 1945, Einstein passou a considerar seus estudos para fins militares um dos maiores erros de sua vida.



sábado, 24 de julho de 2010

Stallone: o idiota!

O ator Sylvester Stallone provocou a ira de nós brasileiros ao fazer declarações pra lá de idiotas durante uma entrevista de divulgação na Comic-Com 2010 em San Diego, nos Estados Unidos. Ao ser perguntado “por que rodar no Brasil? ". O imbecil de músculos flácidos respondeu em tom de piada: “lá você pode atirar nas pessoas, explodir coisas e eles dizem; obrigado! E aqui está um macaco para você levar para casa. E ainda acrescentou, não poderíamos ter feito o que fizemos em outro lugar. Explodimos muita terra. Parecia assim, todo mundo traz o cachorro quente, vamos fazer um churrasco, vamos explodir essa cidade. Não satisfeito, ainda fez considerações sobre a violência local - dizendo que foram necessários 70 seguranças para garantir o bem estar de sua equipe - e sobre o símbolo do B.O.P.E (Batalhão de Operações Especiais). Os policiais de lá usam camisetas com uma caveira, duas armas e uma adaga cravada no centro; já imaginou se os policiais de Los Angeles usassem isso? Já mostra o quão é problemático aquele lugar. Sylvester Stallone se esquece dos problemas de seu país, que, aliás, é o grande provocador de inúmeras guerras que vem devastando diversos países, com a falsa idéia de instalar democracia, causando inúmeras mortes, e seqüelas seculares.

Após ter provocado a ira de nós Brasileiros, o imbecil musculoso pede desculpas, “Sinceramente me desculpo com os brasileiros e a produção do filme. Toda minha experiência no Brasil foi fantástica e falei para todos os meus amigos filmarem lá. Ontem, estava tentando fazer humor e saiu desastrosamente. Não tenho nada a não ser respeito por esse grande país que é o Brasil. Mais uma vez, me desculpe”.
Comentários como esse apenas demonstram a ideologia embutida deste “ator”, que enxerga o Brasil como um país a se explorar o que tem de pior, para depois transformar em porcarias estereotipada, velados por meio de filmes, para depois, massificar a imagem de nosso país. Um ator deste "nível" não sabe o que fala. Pois demonstrou de forma clara o que lhe é passado, para depois reproduzir por infelizes palavras mal ditas.

Cala boca Stallone!


O ator Sylvester Stallone provocou a ira de nós brasileiros ao fazer declarações pra lá de idiotas durante uma entrevista de divulgação na Comic-Com 2010 em San Diego, nos Estados Unidos. Ao ser perguntado “por que rodar no Brasil? O imbecil repleto de músculos flácidos respondeu em tom de piada: “lá você pode atirar nas pessoas, explodir coisas e eles dizem; obrigado! E aqui está um macaco para você levar para casa. E ainda acrescenta, não poderíamos ter feito o que fizemos em outro lugar. Explodimos muita terra. Parecia assim, todo mundo traz o cachorro quente, vamos fazer um churrasco. Vamos explodir essa cidade. Não satisfeito, ainda fez considerações sobre a violência local - dizendo que foram necessários 70 seguranças para garantir o bem estar de sua equipe - e sobre o símbolo do B.O.P.E (Batalhão de Operações Especiais). Os policiais de lá usam camisetas com uma caveira, duas armas e uma adaga cravada no centro; já imaginou se os policiais de Los Angeles usassem isso? Já mostra o quão é problemático aquele lugar. Sylvester Stallone se esquece dos problemas que atravessa seu país, que, aliás, é o grande provocador de inúmeras guerras que vem devastando diversos países, com a falsa idéia de instalar democracia, causando inúmeras mortes, e seqüelas seculares.

Após ter provocado a ira de nós Brasileiros, o imbecil musculoso pede desculpas, “Sinceramente me desculpo com os brasileiros e a produção do filme. Toda minha experiência no Brasil foi fantástica e falei para todos os meus amigos filmarem lá. Ontem, estava tentando fazer humor e saiu desastrosamente. Não tenho nada a não ser respeito por esse grande país que é o Brasil. Mais uma vez, me desculpe”.
Comentários como esse apenas demonstram a ideologia embutida deste “ator”, que enxerga o Brasil como um país a se explorar o que tem de pior, para depois transformar em estereótipos velados por meio de filmes e assim, massificar a imagem de nosso país.

Cala boca Stallone!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Rabelais: um espírito libertário.



(...)

Toda a sua vida era empregada não por leis, estatutos ou regras, mas segundo a sua livre e espontânea vontade. Levantavam-se da cama quando muito bem queriam; bebiam, comiam, trabalhavam, dormiam quando lhes dava vontade. Ninguém os acordava, ninguém os obrigava a beber, a comer ou a fazer qualquer outra coisa. Assim estabelecera Gargântua. Em sua regra só havia esta cláusula:
FAZE O QUE QUERES.


*Gargântua e Pantugruel, de François Rabelais. p.230

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Piva: o poeta da transgressão


Depois de Saramago bater as botas, Roberto Piva também bateu outras botas, e, agora resta-nos somente lembranças das tardes na Casa da Palavra em Santo André, na qual o poeta leu inúmeros poemas. Deixo abaixo, um texto de João Silvério Trevisan, publicado na revista de cultura n°38 do ano de 2004.

A arte de transgredir (uma introdução a Roberto Piva)
João Silvério Trevisan

1.

A história pessoal do poeta Roberto Piva começa e gira em torno da cidade de São Paulo. Ele cresceu e formou-se entre a capital e as antigas fazendas do pai, no interior do Estado de São Paulo. Seus primeiros poemas foram publicados em 1961, quando tinha 23 anos. Nessa mesma época, integrou a famosa Antologia dos Novíssimos, de Massao Ohno, na qual se lançaram vários poetas brasileiros iniciantes, que depois desenvolveram uma obra poética de importância. Piva formou-se em sociologia. Sobreviveu em grande parte como professor de estudos sociais e história. Em suas aulas aos adolescentes do segundo grau, costumava trabalhar as matérias a partir de poemas que os fazia ler e interpretar. Foi um professor de muito sucesso, com rara vocação como pedagogo. Nos anos de 1970, tornou-se produtor de shows de rock. Piva mora em São Paulo, cidade que lhe parece apocalíptica, exemplo do que não deve ser feito contra o meio ambiente, mas que forneceu todo o pano de fundo para sua obra poética. Tem medo de avião.

Por isso, raramente se distanciou demais da capital, de onde foge sempre que pode, de ônibus ou carro, sobretudo para o litoral sul do estado de São Paulo, refugiando-se em casa de amigos na Ilha Comprida ou em pensões baratas de Iguape. É lá que realiza seus rituais xamânicos e entra em contato com seu animal xamânico, o gavião.


2.

A genealogia poética de Roberto Piva apresenta raízes e inclui influências muito raras na literatura brasileira, formando uma mistura-fina que é única por sua erudição, mas também por sua transgressão. Começa com Dante Alighieri. Ainda na década de 60, por três anos Piva aprofundou-se nos estudos da Divina Comédia, orientado por Eduardo Bizzarri, adido cultural do Consulado da Itália em São Paulo. Esse contato com Dante foi como seu imprinting poético-filosófico: marcou para sempre sua visão de mundo, sua política e sua poesia.

Ao conhecer os poetas metafísicos ingleses, sobretudo William Blake, Piva começou a aprofundar sua experiência mais direta com o sagrado e a vida interior.

A entrada em cena de Hölderlin e dos poetas expressionistas alemães Gottfried Benn e Georg Trakl temperaram essa experiência com uma ponta de pessimismo, que deixou de ser circunstancial quando, ainda na década de 60, Roberto Piva teve contato com a obra de um filósofo praticamente desconhecido, no Brasil do período: Friedrich Nietzsche.

À experiência juvenil de Piva agregou-se a contundência desse profeta pessimista e decifrador da alma moderna. Mas nem só de espírito, nem só de intelecto fez-se o aprendizado juvenil de Roberto Piva, que cedo descobriu Rimbaud e Lautréamont, recebendo a influência desses dois poetas visionários, que extrapolam os limites da expressão racional e das escolas literárias.

A partir daí iniciou-se em sua vida o cultivo do rimbaudiano “desregramento de todos os sentidos” para se chegar à poesia. Das vanguardas do começo do século 20, Roberto Piva absorveu lições do surrealismo, na vertente francesa de André Breton, Antonin Artaud e René Crevel. É um dos três únicos poetas brasileiros a constar no famoso Dicionário Geral do Surrealismo, publicado na França. A partir de Artaud, Piva incorporou a idéia de que existe um compromisso absoluto entre poesia e vida.

O dito artaudiano “para conhecer minha obra, leia-se minha vida” teve em Piva a contrapartida: “só acredito em poeta experimental que tem vida experimental”. Também é flagrante em sua poesia a influência dos futuristas italianos (com seu culto à fragmentação moderna), acrescida de algumas expressões musicais da contemporaneidade do pós-guerra, através da onipresente marca do jazz e da bossa nova, duas fidelíssimas paixões de Roberto Piva. Mas há mais duas fortes presenças contemporâneas em sua poética. Uma é a beat generation americana, da qual Piva não só absorveu a estilística fragmentada e a temática que aproxima o contemporâneo do arcaico, mas através da qual também sedimentou a orientação basicamente transgressiva dos costumes do seu tempo.

Na década de 70, a transgressão foi reforçada pela descoberta do outsider Pier Paolo Pasolini, protótipo do intelectual-profeta que caminha nas frinchas do paradoxo. Dos poetas brasileiros, essa genealogia poética agregou as figuras de Murilo Mendes - com seu surrealismo intenso, expontâneo e sensorial, ao contrário dos franceses intelectualizados - e Jorge de Lima, sobretudo aquele barroco, visionário e atormentado de “Invenção de Orfeu”. Os elementos finais da construção poética de Roberto Piva evidenciam uma substancial ligação com o aspecto mágico.

Suas constantes caminhadas xamânicas pela represa de Mairiporã e serra da Cantareira, ambas nos arredores de São Paulo, além de Jarinu, no interior do estado, selaram sua ligação sagrada com a natureza.

Essa sacralidade é, para Piva, a única salvação possível ao mundo moderno, que colocou a destruição da natureza como parte do seu projeto consumista. No quadro da recuperação do sagrado e do mágico, enquanto forças da natureza, Piva passou a estudar e praticar o xamanismo. Para aprender o culto ao primitivo e às forças da natureza, foi buscar elementos não apenas em teóricos como Mircea Eliade, mas sobretudo nas culturas indígenas brasileiras e na prática do candomblé. Ele não só cultua seus orixás (Xangô, Yemanjá e Oxum) mas também toca tambor para invocar seu animal xamânico, o gavião.

Paralelamente a essa trajetória em direção ao sagrado, Piva agregou dois elementos ligados à civilização grega. Um: a ingestão de drogas alucinógenas e bebidas libatórias, como formas de atualizar a tradição dionisíaca e a transgressão sagrada do paganismo. Dois: o culto a uma erótica homossexual, resgatando para a modernidade o amor grego, como um componente de transgressão do desejo.

***
Segue abaixo um poema do poeta


"Poema XIV", de 20 Poemas com Brócoli, dedicado ao Carlinhos:


"vou moer teu cérebro. vou retalhar tuas

coxas imberbes & brancas.

vou dilapidar a riqueza de tua

adolescência. vou queimar teus

olhos com ferro em brasa.

vou incinerar teu coração de carne &

de tuas cinzas vou fabricar a

substância enlouquecida das

cartas de amor." (20 Poemas com Brócoli, 1981)


sexta-feira, 9 de julho de 2010

Felicidade é questão de constituição!



“felicidade não existe, o que existe na vida, são momentos felizes, a gente pode ser feliz, viver a vida sem sofrer, é não pensar no que vai ser, oh! Não me pergunte se amanhã, o nosso amor vai existir, não me pergunte, pois não sei” Musica: A noite mais linda do mundo, Odair José.

O congresso nacional continua realizando, mesmo em férias, oh! Debates interessantíssimos a sociedade. A novidade desta vez é a questão da Felicidade. Cristovam Buarque, aquele lá, que foi chutado do PT porque fez um planejamento para educação de base e ninguém o levou a sério, a felicidade deve ser um direito do cidadão. Isso mesmo! A felicidade deve ser incluída no artigo 6° da constituição. Outro parlamentar que vai na mesma onda, é o ex-presidente do PT, Ricardo Berzoini. Para o parlamentar, “Felicidade é estar bem com sua família, com seus amigos, com seu país. É sentir que as coisas estão andando bem, que os valores morais e éticos são base para uma sociedade mais justa. É você sentir que faz parte de uma comunidade. Eu sempre valorizo muito o sentimento de pertencimento”. Que piada! Berzoini não sabe que moral e ética não faz parte do vocábulo parlamentar!

Segundo alguns jornalecos que circulam por aí, Cristovam Buarque participa de um movimento chamado Movimento Mais Feliz. Parece até piada, mas é isso mesmo!

A modificação proposta pelo senador se aplica no artigo 6º, que trata dos direitos sociais. Três palavras são acrescidas, estabelecendo que a obtenção dos direitos já ali previstos são “essenciais à busca da felicidade”. Os direitos previstos no artigo 6º são educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados.

Questionado em suas observações, o senador respondeu, “não estamos colocando a felicidade na Constituição, mas estabelecendo que os direitos ali previstos estão diretamente vinculados à busca dessa condição de felicidade. Ou seja, deixar claro que não há possibilidade de bem-estar para o cidadão que não tenha acesso à saúde ou à educação”. Ah! Estas respostas repletas de polissemias viu!

Talvez fosse interessante a estes parlamentares muito comprometidos com a sociedade, ouvir a música A mulher mais linda do mundo, Odair José, cuja estrofe diz: a felicidade não existe, o que existe na vida, são momentos felizes. Talvez, eles pensem um pouco sobre esta alteração brusca, radical, em uma simples folha de papel.