sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Só de passagem...

Era um momento.
Nada mais!
De fato mamãe, tudo o que disseste-me acerca do mundo e da vida não consigo ver nas ruas. Dentro de mim, há uma grande falta de entendimento acerca de tudo, da qual não é possível sequer dizê-la. E se tento ao menos dizer, expressar-me de maneira clara e objetiva, é melhor calar-me no silêncio dos enleios e arredores das ruas.
Mas, tu que disseste-me que a vida era assim mesmo, que as pessoas fazem maldades são assim mesmo; que os acontecimentos da vida são assim mesmo e que tudo isso que acontece é normal em nossa vida mesquinha e escrava da qual levamos, é melhor ser velado pelas parcas circunstâncias que cobrem meu rosto e me impedem de ver o que está posto em minha face.
Quanta falta de entendimento!
Não entendo!
E quando suponho que entendo alguma coisinha que acontece, de fato não entendo bulufa nenhuma, e acabo caindo em falsas ilusões, mitos e tudo qualquer porcaria que desvia-me dos sentidos.
Nada se entende.
Mas, tu que é pessoa correta, a favor de posições que até hoje não sei o que significa, algo se esconde do que disseste-me.
Até parece obvio, deve sê-lo! Pois se não o é da forma que disseste-me é de outra. E aí? E se for? O que faço?
(...)
Desfaço-me em vários compartimentos como muitos que estão por aí buscando a vida. Eles sabem mamãe realmente qual o problema mesmo? Desde pequenos estão acostumados a ouvirem historinhas dizerem “olha, é assim mesmo, deixe pra lá...” não vai ser porra nenhuma. A vida é. Nada mais.
Todos sabemos que há limitações para o bom viver de todos, há muitos que o degeneram e não buscam simplesmente a vida. O que fazem? Permanecem na eterna ignorância de buscar explicações para o desvio do feito.
Mas nada acontece!
É uma verdadeira perca de tempo!
Perda de tempo essa como se fosse explicar alguma coisa justificando com argumentos de Deus. Existem pessoas que se preocupam com isso. Pois dizem: “ se é assim é por que Deus quis assim que fosse, vou entregar nas mãos dele”.
Como seria entregar nas mãos de Deus? Subir uma escada em direção ao céu e lá no final ver um homem que não sei descrever; conversar com ele e dizer : “Deus, aqui está! Entrego em suas mãos”, em seguida ele diz : “Tudo bem meu filho, pode ir embora”.
Vejo apenas que há alguma coisa mais potente do que eu, o que é, eu não sei...Se fiz livremente esta escolha, quer dizer, não tão livremente assim, vejo então mamãe que algumas coisas que disseste-me acerca do mundo e da vida não passam de minguados entendimentos de existência e seus correlatos.
Quanta falta de entendimento!

Escrever

Escrever é uma tarefa cálida, gostosa como a vida. É nela, escrevendo, que encontro-me com o desconhecido, dissipo-me de sentimentos que me acompanham...A escrita é como um trabalho arqueológico, é preciso escavar os montantes (...) Assim, conhecemos ao menos um pouquinho do que buscamos; às vezes, a descoberta é sem querer, daí cava-se os lugares escondidos, e a descoberta é maior, valiosa, árdua e dolorida...Daí entende-se o porque de escrever.


domingo, 16 de novembro de 2008

A Manoel de Barros...

I

Uso a palavra para compor meus silêncios;
A elas, dou mais respeito
Não que goste de outras coisas,
Palavras confortam-me
Dizem o não dito
Regatam o já falado
Nesta imensa rua que é a vida...

sábado, 8 de novembro de 2008

Acontecimento

Mãe; quero ir-me embora, a vida não é nada daquilo que disseste quando meus olhos viram que a rua dizia muito mais do que tuas parcas palavras vazias. O desespero, que foi tão grande, murcharam tão depressa a aqueles que nem me deram um mínimo de atenção – se é que me deram! Já não tenho certeza o que disseste, mas tu deves lembrar porque disseste que isso ia acontecer.