sábado, 27 de fevereiro de 2010

Marx e a atualidade da XI tese sobre Feuerbach

“Os filósofos tem apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transformá-lo”.

Teses sobre Feuerbach é redigido após a insurreição dos tecelões ocorrida em 1844 e surge provavelmente em março de1845. Este fato marca consideravelmente a virada ideológica na evolução do pensamento do Jovem Marx.
Além deste ocorrido, dois outros acontecimentos são fundamentais para a compreensão das teses, o levante da Silésia e o movimento comunista em Paris nos remetem diretamente as teses mencionadas, especificamente a XI “Os filósofos tem apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transformá-lo[1]”.
Estes acontecimentos colocam para Marx o problema da prática revolucionária das massas proletárias. A primeira tentativa de compreensão e solução é esboçada num artigo nomeado de Vorwärts . Neste artigo Marx esboça que o proletariado é o elemento ativo da emancipação. É a partir deste contexto que surgem as teses sobre Feuerbach.
Na tese XI podemos verificar a relação entre Marx e a Filosofia do século XVIII, bem como as anteriores que marca a ruptura definitiva com as demais filosofias.
Nesta tese, Marx diz que os filósofos interpretaram o mundo e no entanto, a tese explicita justamente o contrário.Marx luta para transformá-lo, ou seja, trata-se de uma prática revolucionária oposta a especulação abstrata, típica dos filósofos de sua época.
Esta tese trouxe algumas influências conhecidas entre nós. Neste mesmo caminho seguiu Lênin ao dizer, “não há prática sem teoria revolucionária”. Mas nesta tese podemos verificar que há outros elementos, isso por que para Marx está claramente estabelecido que o mundo deve ser compreendido em sua contradição, bem como revolucionado em sua prática.
Esta tese tem uma importância cerne, principalmente nos dias de hoje, em que diversas correntes filosóficas evocam prática antes da interpretação especulativa. 11° tese trata-se de uma interpretação acompanhada por uma prática crítica, na qual a teoria já é prática. É assim que Marx estabelece uma ruptura entre os demais filósofos de seu tempo que interpretaram o mundo. Anunciando uma nova prática filosófica que é fruto de inúmeros debates contemporâneos.


[1]MARX. K. A Ideologia alemã e teses sobre Feuerbach. São Paulo: Ed. Moraes, 1984.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O vírus Bóris Casoy

Que em determinadas circunstâncias a linguagem é ideológica, sabemos disso. O que não sabemos é que este campo se transformou numa verdadeira arena de luta de classes nos noticiários brasileiros. Nesta batalha semântica, algumas falas determinam posições que lembram até o cheiro do ranço bandeirante que ainda vive na mentalidade escravocrata e aristocrata brasileira. Destacam-se nesta guerra ideológica de palavras o Jornalista Boris Casoy, não por seu jornalismo, ao contrário, por suas concepções que exalam a odiosa mentalidade dos velhos proprietários de terras do Brasil Colônia e o odor das dondocas que tomam chá das cinco nos Jardins da Cidade de São Paulo.
No dia 31/12/09 Boris Casoy apresentou o Jornal da Band, e como pode-se imaginar, fez diversos comentários acerca dos acontecimentos que ele mesmo classifica-os com sua famosa frase:“isto é uma vergonha!”.
Um neopuritanismo bandeirante.
Como sabem, era véspera de ano novo, e os jornais brasileiros adoram explorar a imagem alheia pra ganhar um bocadinho de ibope. Certamente Boris Casoy o conseguiu ao realizar comentários de dois garis que desejavam feliz 2010 aos telespectadores. Para aqueles que não conhecem sua posição, ficou claro ao dizer: “Que merda...Dois lixeiros desejando felicidades... Do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho”.
(...)
Percebendo seu erro ao deixar o microfone ligado, no dia seguinte o jornalista pede desculpas: “Ontem, durante o programa, eu disse uma frase infeliz que ofendeu os garis. Eu peço profundas desculpas aos garis e a todos os telespectadores”.
Como pode-se notar, as declarações do jornalista refletem a formação de uma mentalidade odiosa que jamais foi banida desde os tempos de Pombal. Ou pior ainda, as desculpas de Boris Casoy, não foram feitas por compaixão, caridade ou dó, mas por causa do “vazamento de informações”. Sua postura conservadora, direitista e reacionária, apenas demonstrou as marcas predominantes de uma sociedade colonial, onde as relações sociais são realizadas entre um que manda e outro que obedece. Esta relação jamais banida, demonstra fortemente a verticalização desta em vários aspectos. A fala deste jornalista foi apenas a confirmação de uma mentalidade odiosa que custa a predominar em nossa sociedade.
Isto sim, é uma vergonha!


*Imagem: Lattuf 2010