domingo, 24 de outubro de 2010

O jogo de humilhados e ofendidos

Neste bate boca político entre o ex-José Serra, que agora é chamado de Zé, que, aliás, de Zé não tem nada, é apenas uma apelação aos mais pobres e oprimidos para angariar mais votos, Dona Dilma, também se finge de Santa ao debater questões pra lá de retrogradas e moralistas.

O que este debate tem em comum? Ora, é evidente: a falta de informações!

Temos claramente dois projetos de Brasil, um que é evidentemente aliado ao governo FHC, e outro, que é continuidade de Lula, no entanto, o que prevalece nestas eleições é um falso moralismo burguês que beira o discurso conservador, o que faz lembrar algumas regiões dos Estados Unidos, onde a invasão da Igreja traria uma suposta ética para política e por fim, a volta dos bons costumes.

Sabemos que de longe a ética não está na política, Maquiavel demonstrou na obra O Príncipe, aliás, quão difícil é determinar o que é Ética! Se perguntarmos a qualquer parlamentar do conselho de ética o que eles entendem por esta palavra, cada um trará uma definição, o que demonstra no mínimo uma burrice, e a ofuscalidade de discursos.

O que resulta desta bate boca eleitoral?

O voto da desinformação.

Ao colocar-se do lado de supostos Santos Moralistas Do Pau Oco que defendem os valores da família, governo de união, e mais trololós e trololós carregados de esvaziamento e espetáculo, Dilma e Serra vão as “paróquias” conversar com a alta cúpula da CNBB, e com pastores, pedir a benção a estes que “compartilham” a política da moral e dos bons costumes. Tais eventos transformaram questões cernes dos rumos do Brasil em espetáculos e deixaram de lado o debate e o diálogo, para entrar o jogo de réplica entre Humilhados e Ofendidos.

O que vemos é um verdadeiro jogo de desinformação, recheado de humanismo e que sem dúvida, mais confundem do que esclarecem. Essas campanhas pela moral e ética na política são comparáveis às campanhas assistencialistas recheada de direitos humanos; estas, apenas criam a ilusão de que uma sociedade embasada na produção e extração de mais-valia não seja estruturalmente imoral, antiética, violenta e anti-humanista[1]. Neste sentido, os bovaristas de plantão acabam votando em direitos supostamente universais, cujo contrato moral burguês é a satisfação animal de interesses e desejos privados, uma espécie de Robson Crusoé.



[1] Hector Benoit, Do amoralismo universal ao privado. Dossiê: Marxismo, ética e política revolucionária.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Greve professores 2010 - resposta ao governador josé serra



A imagem e o discurso valem mais que um texto. Este é pretendente a presidência da república do Brasil.
Não ao Serra!

domingo, 10 de outubro de 2010

O segundo turno e a igreja



O vídeo de acima de Dráuzio Varella é eminentemente atual. Após o final do primeiro turno das eleições, que acabou há poucos dias, um acontecimento vem sendo cada vez mais evidente nos debates públicos, ainda que na surdina, os bastidores dos Partidos de FHC e Lula debatem: Como lidar com questões que batem de frente com a Igreja?
José Serra acusa Dilma de violentar contra a vida e de proclamar o aborto, no entanto, este tem a mesma postura de Dilma, logo, ambos têm a mesma posição: a legalização do aborto. Mas a questão não é tão simples. José Serra tem ciência de sua postura, angariar votos, afinal de contas, em um país como o Brasil, qual político ousaria tocar em assuntos tão delicados nestes tristes trópicos? Esta questão ficou nítida para Dilma. Após diversas críticas sobre tais questões, Dilma recuou, e seu discurso soa semelhante ao de José Serra: ambos querem lutar pelos valores cristãos e estar ao lado da família. É inevitável compará-los aos Democratas Cristãos!
Todo este debate só esclarece a questão: a igreja ainda é um divisor de águas no processo político do Brasil. Com este atraso intelectual que faz lembrar o período feudal, as regras do jogo ainda são jogadas pela igreja, e os políticos que não querem perder seus votos, simplesmente dizem: amém!
Estamos muito longe de ter um Estado Laico...

sábado, 2 de outubro de 2010

Manuscritos Cotidianos

I

Estar sendo, ter sido. Uma afirmação tão cruel e nua de se fazer nos dias de hoje. Quem tem ousadia nos dias de hoje de dizer a verdade e sustentá-la? Muitos preferem ficar na inércia, supondo um bucolismo pequeno burguês de uma vida afastada de responsabilidade.

Que mentalidade é essa?

Pensar que as idéias mudam. Tentar juntá-las ao fardo da compreensão difícil de ter. Tais exercícios só supõem o que se esconde por de baixo dos panos. Se é que se escondem! Mas, estes, que gostam de viver afastado dos movimentos cotidianos, possuem uma fé inabalável que idéias mudam alguma coisa.

Ledo engano. Não sabem o que estão dizendo.

II

Num posto de gasolina, dois homens conversam sobre a situação política brasileira. De repente, um deles diz-me que é necessária ética na política. Digo que não, irritado, pergunta-me o que entendo por ética. Fiquei sem saber o que responder. O moço ficou embaraçado com minha falta de definição, ou talvez, até irritado. Mesmo assim, disse-me várias palavras que no entender dele era Ética.

Quantas palavras usadas para a definição de uma só!

III

A gente fomos à casa de João. Você está louco? Não é assim que se diz! A regra é clara. Diz-se: nós fomos à casa de João. Parece que não sabe usar a norma culta!

Ah, esses puristas da gramática tradicional! Constituíram-se com base em preconceitos sociais o tipo de mentalidade que perpetua na cabeça da maioria das pessoas.

Ainda bem que temos Guimarães Rosa, que faz justamente o contrário destes imbecis lingüísticos!

IV

Deve-se dizer a verdade. Pra quê? Drummond abriu as portas e as deixou em movimento para que todos passassem. Alguns curiosos ficaram sem saber o que estava acontecendo, olharam, olharam e olharam, outros, simplesmente notaram a lacuna e sem pedir licença, entraram. Aqueles que ficaram do lado de fora se questionaram. Como podes entrar desta forma? Existe uma regra? Claro, em todos os lugares existem regras. Então, diga-me porque não usaste tais regras? Já disse, a porta estava aberta e entrei.

Como assim? Que absurdo!Procurarei o responsável.

Isso, se encontrares, não estarei aqui. Pois, minhas palavras já foram ditas. E quem as ouviu? Aqueles que estavam lá. Lá aonde? Não sabes? Não.

Então, ficará sem saber...

V

No trem as pessoas parecem as mesmas. Andam apressadamente, de cabeça baixa, rumo ao seus respectivos destinos. As meninas, com seus cabelos lisos de chapinha, também parecem as mesmas. Loiras alisadas, com fones de ouvido e portando roupas de executivas, na realidade, muitas destas, são atendentes de supermercados.

Ao descer, todos seguem correndo para a baldeação afim de não perder o trem. Outros, permanecem dormindo até a estação final.

VI

Quando voltam pra casa, o sacrilégio continua o mesmo desde cinco da manhã. Esperar o trem, entrar correndo para sentar em algum banco. Todos são os mesmos, cabeça baixa, fones de ouvidos, calças femininas largas, vestimentas de uniforme de executivas, que na realidade não são, e quase todos dormindo.

Em seus lares, um sinal alude o que deve ser feito.