terça-feira, 20 de agosto de 2013

O colapso da moral

Nelson Rodrigues talvez seja o grande prosador da anti-moral e bons costumes. Seus personagens ilustram muito bem as fraquezas e desvios humanos. Em um tempo do qual Zigmam Baumam chamou de era líquida, os valores tradicionais esvaziaram-se. É por isso que Nelson Rodrigues mostra-se tão atual.
Em uma de suas peças, Toda nudez será castigada, Nelson nos coloca em uma verdadeira sinuca de bico e chuta de vez a moral pras cucuias. Os personagens, Herculano, homem conservador que, ao ficar viúvo, perde a alegria de viver, Geni - prostituta que vive a obsessão de morrer de câncer no seio, Patrício - é irmão de Herculano, um homem do mundo, bon-vivant que aposta nos cavalos e vive ladeado por prostitutas; está endividado, Serginho - filho de Herculano possui tendências homossexuais e oscila entre o conservadorismo das tias e o liberalismo do tio, vivem verdadeiros dilemas.
De maneira geral, a peça conta a tragédia de Herculano. Após a morte da esposa, até então sua única mulher, ele encontra-se num estado de depressão, pensando inclusive em se matar. Uma presa fácil para o seu irmão Patrício, que culpa Herculano pela sua falência. Prevendo que a castidade do irmão seria sua fraqueza, Patrício o estimula a conhecer Geni, uma prostituta a quem ele deve uma quantia. Assim, ele poderia se vingar de Herculano – colocando-o entre o desejo sexual e a promessa que fez ao filho, Serginho, de que nunca mais teria outra mulher na vida – e, ao mesmo tempo, garantir seu sustento pago pelo irmão.
Herculano se apaixona por Geni, e fica preocupado com o fato de seu filho, que apresenta um comportamento conservador, saber de seu caso com a prostituta. É neste contexto que Serginho sofre um estupro na cadeia. Os quatro nutrem um fanatismo que beira o doentio em relação à esposa falecida de Herculano, a ponto de Serginho visitar o túmulo da mãe e sonhar com a sua presença todos os dias. São passagens tão estranhas que, perto delas, os hábitos extravagantes de Geni tornam-se aceitáveis. Porém, a peça não se restringe a crítica à religião, mas mostrar que ela é um discurso usado para suavizar a hipocrisia da sociedade de aparências.
O ponto cerne e o toque de mestre de Nelson Rodrigues acontece quando Herculano se casa com a prostituta e Serginho trai o próprio pai. Serginho mantém um caso com Geni, pois considera uma traição do pai se casar com outra mulher. Quando Geni está perdidamente apaixonada por Serginho, este resolve viajar com a desculpa de estar com vergonha do estrupo sofrido, mas na realidade, foge com o homem que o estuprou.
Este é um grande exemplo do qual podemos chamar de colapso da moral, ou seja, a falência múltipla dos valores tradicionais.
Ora, por que isso acontece? Simples, porque há novas formas de vida que estão surgindo e com isso, a grande mídia se alimenta destes comportamentos para realizar seus discursos ideológicos totalmente carregados de idéias vazias e sem nexo, promovendo a ignorância em âmbito nacional.

As transgressões expostas nos romances de Nelson Rodrigues explicitam isso, não há um padrão moralmente correto, mas sim, comportamentos humanos do qual o ser humano se faz.  Este fato faz evidenciar que o considerado certo e errado foi suspenso por atitudes anti-tradicionais. Eis a era líquida, os valores mudaram, os comportamentos também, e é justamente nisso que se encontra o colapso da moral, no desencontro das verdades pré-estabelecidas e no desvio constante delas.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A ditadura da diferença

Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o direito a ser diferentes, quando a igualdade nos descarecteriza”.(Antônio Teodoro)


A frase de Antônio Teodoro, sociólogo Português, pode servir muito bem para o tema aqui proposto: a ditadura da diferença.
De ante-mão, convém explicar a polêmica do tema. Há muito tempo se iniciou um debate em torno das minorias, porém, nota-se que estas mesmas minoria às vezes tentam nos impor goela abaixo seus padrões.Quem se prontifica ao contrário acaba  sendo taxado de reacionário.
Quando Feliciano apresentou seu polêmico projeto, houve uma ausência de fundamento sobre o debate e uma multidão caiu de pão em cima dele. Claro que Feliciano não é dos melhores em sua retórica e suas falas beiram o delírio, porém,  com lidar com tudo isso? Seguindo a baixaria padrão da mídia? Ou fundamentar e ver as causas do debate?
O exemplo de Feliciano é um grande exercício de se pensar os lados oponentes que não se acordam. Seguir o jogo de ofensas e delírios midiáticos só mostram como a gente segue facilmente a manada em suas opiniões.
A rasura predominante nos debates coloca em evidência a falta de busca e investigação de suas causas e problemas de propostas, e é neste contexto que fomentamos a cegueira social predominante nos dias de hoje, tentando impor a qualquer custo nossas opiniões.
Este contexto de humilhados e ofendidos talvez seja usado apenas como estratégia para a não compreensão de fato do problema de debater os projetos propostos a nós cidadãos.
Resta a nós apenas um desafio: debater, respeitar e não se valer deste jogo bárbaro que a mídia alimenta e incute em nossas cabeças.