segunda-feira, 7 de abril de 2008

É por pensar em crianças...

A criança indaga, em seu silêncio de desesperança e alento. Grita, diante da pretensa evidência de que ela não pensa. Há outros que pensam por ela...
A criança ainda indaga, devido ao fato de que ela nunca foi ouvida. Seu gesto de desespero é uma resposta de que outros querem ouvir. Ao sentir o grito da falta de esperança, de desalento, de penúria, eles vêem o que tem que pensar e agir por ela...
A criança vai ao mercado com seus pais e lá eles dizem “O que queres meu filho (a)?”. Os pais ouvindo a resposta da criança dizem “Não!, isso não, você é muito pequeno para isso!”.
Dessa maneira é que se configura o pensar para o outro, onde quem tem o poder da ação não é o sujeito que carece e sim o sujeito que é o tutor deste. Neste jogo de pensares, a criança muda e telepática continua muda em seu espanto de que ela é a estúpida, quem não pensa.
A criança quer brincar, quer jogar bola, jogar taco, dado, enfim, a criança quer se expressar para o mundo, desenhando, lendo, escrevendo, mas, quem pensa por ela não vislumbra seu anseio. Por isso que, a criança continua sendo infante, mas o infante quer falar diante da pretensa evidência da instituição que pensa por ela, num gesto que se configura em ordem social, miséria, opressão e terror. Enfim, são eles que manuseiam as leis, os pensamentos, a matéria prima da fantasia que sonha em fazer o existir ter sentido.
Por mais que há intelectuais, políticos, pensadores da educação, comprometidos, sobretudo com elas, alguns fazem delas lixo que mal ouvimos. Além de colocá-las na forma de negligência, discriminação, exploração e crueldade sem antecedentes.
Quando se pensa nestes pequenos “Condenados da Terra”, há um panorama que descortina toda realidade social desses pequenos operários no mundo, onde a criança vive sob a servidão do lucro. São crianças que nunca ouviram falar em infância, que ignoram o lazer e não freqüentam a escola.
Neste bojo, podemos vislumbrar um pequeno retrato social de nosso Brasil arcaico que ainda predomina o acerto de contas.
No Nordeste Brasileiro, as crianças estão em várias atividades. A colheita de cana de açúcar é a principal atividade onde a criança está submersa. Os Estados do Ceará e de Pernambuco, juntamente com o Rio de Janeiro, são os recordistas na exploração infantil nos canaviais. Nesta atividade, as crianças cortam cana e suportam o peso de sacos da planta e correm o risco ate de sofrerem mutilação. Apesar disso, não trabalham menos de dez horas por dia, permanecem expostas ao sol e praticam o serviço sem proteção nenhuma.
Neste jogo do ódio, permanece a interstício da realidade de nossa cortina social, na cultura do fumo em Alagoas, na colheita da uva em Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Bahia e Sergipe e nas pedreiras de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba.
Na Região Sul, que ao lado do sudeste, é considerada a mais rica e adolescida de pequenas crianças mudas e telepáticas. Só nesta região, há 21 atividades para esses pequenos infantes. No Estado do Rio Grande do Sul concentram-se 11 atividades. A extração de acácia ametista no Rio Grande do Sul, pelos infantes são as mais impressionantes. As crianças lavam as pedras de ametista com produtos químicos tóxicos sem proteção alguma. Além disso, ficam expostas as fuligens da máquina de lixar a pedra e padecem com o peso do minério das minas até o local de beneficiamento.
Na Região Sudeste, torna-se comum ver crianças correndo atrás da vida em faróis, comércios, supermercados. Em São Paulo, nas regiões periféricas, crianças são vistas catando lixo, em feiras, supermercados e dali tiram o sustendo do dia. Situação essa que não se difere na zona urbana do Estado do Mato Grosso.
Já na Região Centro Oeste, a cortina continua a se abrir. Em Goiás, crianças trabalham duro em jornadas que não duram menos de 10 horas diárias na colheita de algodão, tomate e alho. O mais impressionante é as olarias, onde as crianças começam a trabalhar as 04hs00 da manhã e vão ate as 17hs00 horas.
Essa é a verdadeira síntese da exploração, violência e discriminação do mundo onde a criança grita e se desespera, indaga, em seu silêncio de desesperança e alento.
Muitas vezes, esse silêncio é composto sozinho, cuja manipulação de pensamento é variante para o pensar para desse pequeno infante. Muitos pensam e agem para ela (a criança), e não pensam com ela, ignorando dessa forma sua voz (que nunca foi ouvida).
Portanto, nesse jogo do terror, a criança é o novo escravo da servidão humana, onde a sociedade que fala em liberdade, prende-as em verdades que mal são divulgadas.
Essa é a matéria prima que governa esses “condenados da terra”, onde a esperança é aquela que é inexistente. Para elas, a esperança é quimera.
Essa é a síntese social onde a criança é pensada, planejada por saberes e por práticas de instituições que as capturam. Nesse jogo de horror, a criança encontra-se enjaulada, de forma que em seu silêncio de desesperança e de medo, ouvimos seus gritos na tentativa de enjaulá-la. Criando dessa forma homens do século XXI: Útil, mudo, solitário, eficiente e portador da síndrome do pânico.

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