domingo, 24 de março de 2013

Qual é a graça de espiar a vida dos outros?



Um espectro ronda a vida pública. Não é o comunismo. Antes fosse. Agora, o que preocupa alguns pesquisadores são as razões do sucesso de programas como BBB e a fazenda.
Antigamente as pessoas questionavam porque se perdia tanto tempo assistindo novelas, agora, tentam entender porque há tanto sucesso em ver tais programas. Hoje, se questionam sobre estas novelas reais.
No passado a questão era a privacidade, o fascínio pela intimidade invadida, um voyeurismo que fingia acreditar que era realidade ver aquela vida ali exposta. E hoje, o que está acontecendo com os tempos atuais, onde a inversão de papéis esta na cara de todos?
O que se pode ver nas TVs de hoje? Sexo, nudez, violência gratuita, baixaria, narcisismo básico e polêmicas, muitas polêmicas.
No fundo, tudo parece banal. O excesso de aparições mostra a falta geral de qualquer personalidade. O que querem todos que assistem a tais programas? Porque há tanta mobilidade social para votar em alguém que não merece receber os milhões de reais? O que acontece para as pessoas não se mobilizarem para algo que mexa realmente com os rumos deste país.
Claro. Não sejamos hipócritas. Sabemos que a onda de corrupção, a falta de seriedade dos políticos e de tudo que acontece neste país, só enraivece cada vez mais as pessoas que simplesmente não querem saber dessas coisas. Querem se distrair destes fatos e esquecer toda essa palhaçada.
A promessa de que vamos espiar, fazer uma vida transparente é pura balela.
Vivemos em tempos voyeurísticos, cuja finalidade é dar condições de acesso a este tipo de informação.
Este é o retrato do presente.   

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Onde estão os indignados do Brasil?



“Quando a gente olha para as coisas grandes, situação política, o aquecimento global, a pobreza do mundo, tudo parece mesmo horrível, nada está melhorando, não há nada de bom para esperar . Mas então eu penso nas coisas pequenas...sabe como é, uma garota que acabei de conhecer, ou essa música que a gente vai tocar com o Chas, ou brincar na prancha de esquiar na neve, no mês que vem, e ai parece ótimo. Então meu lema será este: pense nas coisas pequenas. (Ian McEwan. Saturdy)  

Cada vez mais os brasileiros se interessam menos por política. Desde o início da república, a grande parte assiste a distância os processos políticos regados a grandes doses de corrupção. No Brasil, a atividade política se tornou um verdadeiro show de Stand-up comedy. Aleinados e desinteressados, todos são vitimas de um longo processo que os faz ficar a margem da construção da historia da política brasileira. Este apolitismo é internalizado e muitas vezes acredita-se ser a postura mais correta diante de tanta corrupção.
A grande descrença e a falta de um horizonte se da na medida em que suas relações com as instituições políticas são praticamente nulas. Principalmente com relação aos candidatos que de quatro em quatro anos iniciam o ciclo vicioso de promessas do paraíso terrestre.
Este verdadeiro show político, onde a utopia foi esfacelada, acertou em cheio a pobre mentalidade brasileira. Deturpadas, as pessoas entendem (em sua maior parte) que a atividade política é um verdadeiro escândalo aos olhos dos que crêem em alguma coisa neste país.
Mas, como conciliar a apatia deste povo, o individualismo que assola a sociedade contemporânea?
Uma coisa é certa. O individualismo encontra-se enraizado em dois pólos. Primeiro está  nos representantes parlamentares, que como figuras publicas representam apenas seus próprios anseios, esquecendo o bem comum a população.. Segundo, o próprio povo, que com sua apatia, pensa apenas em suas vidas pacatas, achando que a política é uma causa perdida.
Sendo assim, o Brasil seria um país de idiotas?
Ao acreditar que o mais correto seria ficar distante de todo esse processo, o brasileiro assume a postura de preocupar-se apenas consigo. Neste sentido, a palavra idiota parece que cai como uma luva nas mãos do brasileiro. Na Grécia antiga, idiota (idiotes) é aquele que se preocupa com sua própria vida, em assuntos particulares. Neste sentido, a resposta a pergunta parece ser sim, na medida em que a população brasileira mostra-se mais preocupada em encher a geladeira do que participar ativamente dos eventos políticos.
Só um desvio para reverter esta ordem!          

domingo, 17 de junho de 2012

O custo social do progresso


Algumas pessoas dizem por aí que vale a pena fazer qualquer coisa para o país progredir. Outros preferem o contrário. Em uma sociedade supostamente preocupada com a ética, em que medida se torna possível realizar o progresso de um país tão complexo como o Brasil?
Dizem que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi um grande exemplo acerca da questão. Ao ser eleito presidente da república na enésima tentativa, Lula teve de aliar-se com pessoas de índole pra lá de duvidosa. Ora, qual o problema deste fato? Dar a mão ao inimigo, é o que dizem.
Para o Brasil evoluir economicamente, dizem os políticos por aí, Lula teve de rasgar suas lições aprendidas no partido dos trabalhadores para melhorar a vida dos próprios trabalhadores. Os mais radicais dizem justamente o contrário. Lula foi um pelego que traiu os trabalhadores ao aliar-se com Sarney, Collor e companhia, para ceder cargos para partidos duvidosos. Ora, a questão não seria saber se a classe trabalhadora que na maior parte tornou-se classe média melhorou de vida? Ou, debater a finalidade de tais alianças? 
De todo modo, o que é preciso saber é: o progresso é um mito renovado por aparelhos ideológicos interessados em convencer que a história tem um destino certo e glorioso. Neste sentido, seria uma insensatez negar os benefícios do governo Lula, porém, convém analisar os riscos ao aceitar o argumento de que Lula mudou para a melhoria de vida do povo. Ou então, para usar um exemplo engraçado acerca do tema. Maluf rouba, mas faz!    
Mas, esse tal progresso, discurso dominante das elites em todo canto, traz também em si paradoxos: exclusão, concentração de renda, subdesenvolvimento (em todos os aspectos), e restrição de direitos humanos essenciais.
Mais inquietantes são os riscos decorrentes trazendo em si seus dilemas éticos e morais.
Basta fazermos uma pequena constatação. O século XX com seus imensos saltos tecnológicos e científicos trouxeram guerras, mortes, tragédias e misérias. Fez brotar desenvolvimento? Sim, fez. Contudo, mal sabemos os riscos que corremos e os problemas futuros que ele pode ocasionar.
Antes de qualquer análise é preciso saber quem determina e quem escolhe a direção desse tal progresso e com que objetivos é escolhido. Se não, ficaremos na omissão embevecida do rebanho do que da ação crítica vigorosa que merece este debate.

sábado, 14 de abril de 2012

Leis de ameaça

É proibido proibir!

Desconfio daqueles deputados que em nome dos cidadãos inventam leis estranhas sob a justificativa de fazer o bem para a sociedade. Existe muito parlamentar por aí querendo proibir o chope nas calçadas, o quentão nas quermesses, a cerveja nos camarotes de carnaval, o vinho nas festas de nossa senhora queropita, a caipirinha nas praias e o champanhe comemorativo da formula 1...
Estamos caminhando cada vez mais para uma sociedade purista e careta.
De vez em quando somos ameaçados por projetos leis destes nobres parlamentares que não acrescentam em nada na vida dos cidadãos. Qual seria a justificativa para tantas leis proibitivas? Será mesmo esta a alternativa, proibir?
O fato destes senhores de leis proibirem tanta coisa evidencia cada vez mais um fato, o pânico do debate público destes ofendidos que visam tomar conta do pensamento público, esmagando e passando por cima de tudo que não concordam. Ora, colocar em xeque a liberdade do cidadão baseados em leis proibitivas não adiantam nada, de uma forma ou outra, estes leis serão burlardas e as pessoas vão continuar fazendo seus atos, sejam proibidos ou não.
O problema disso tudo é o medo que estes puritanos têm da afirmação da vida para além do bem e do mal. Morrem de medo de Eros e tentam se esconder em um asylum ignorantiae inundado pelo pânico da hostilidade primitiva do mundo.
A realidade para estes senhores conservadores de leis é insuportável e a verdade apresentada nua e crua é uma ferida que os agride o âmago de seus seres. Quando tais medidas são propostas, basta verificar o horror contido no discurso, e olha que estamos escrevendo apenas alguns projetos, deixando de fora, por exemplo, a proibição do uso de estrangeirismos proposta por certo bigodudo gaúcho.  
O espírito desta classe que nos “representa” não passa de puro ressentimento, por isso, estes puritanos da ordem temem qualquer abalo em seu mundo do bem. É neste sentido que leis são criadas, trazer benefícios para aqueles que compactuam com esta visão de mundo estreita e ameaçadora. Esta bancada que se define pela moral dos bons costumes e do bem, assumem ares de moral extremamente ameaçadores, por isso, escondem-se em miúdos projetos que nada dizem.
Nobres parlamentares, ao invés de preocupar-se com estes projetos inúteis, que tal elaborar uma lei que proíbe a corrupção?  

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Absurdo

"Olhos submersos infligem regras postas, querem ser curados desta doença endêmica que aflige este coração desviante. Cegos que já não veem como antes, o ontem e o hoje estão fundidos na busca de sinais que não veem . Estes olhos, sentem que a razão da vida é absurda, são nada mais que patentes desadequadas a impressão natural do que é".

domingo, 31 de julho de 2011

Sobre amar

Amar é muito importante para qualquer desenvolvimento espiritual ou intelectual. Isto é um fato, mas como todo fato, há os que são contra e conseguem transformar este doce fardo[1] simplesmente em dor e sofrimento. Será mesmo necessário sofrer tanto para se ter amor? Evidentemente, esta postura metafísica que me faz lembrar a penosa busca de Dante a Beatriz possui fortes resquícios nos dias de hoje. Mas, quem em sã consciência se ajoelha a tais dogmas? Há pessoas que seguem a manada e não sabem sequer o destino. Dissimulados em si mesmos, não se questionam um instante e semelhante a Janus, marcam as portas de entrada e saída com o mesmo caractere, o verdadeiro e o falso.


[1] Heidegger

quinta-feira, 14 de julho de 2011

V

Desde o princípio soube destes acontecimentos, não muito claros, e às vezes escuros, tentava os entender na mais correta circunstância desaparecida. O problema foi que ao invés de encontrar, me perdi, e nada permaneceu dentro deste ser que tenta buscar alguma coisa.

Já sei! Migalhas! Migalhas ao vento!

Talvez esta seja a única resposta que eu tenha dentro de mim, mas não sei se esse eu é tão sério assim. Aquela idéia inicial, repleta de contradições e que todos reclamavam, tentei abandoná-la, mas, ela persiste em me seguir como uma sombra que não desgruda ao menos um segundo.

Saia de mim tentação! Desapareça! Deste jeito, eu não sei se eu estou neste mundo de fato, ou sou apenas uma peça nesta engrenagem enorme que engole milhões todos os dias. Este tormento, de não saber nada, e que de fato às vezes se sabe, o que parece até uma apologia da ignorância, me persegue, e aqueles que estão ao meu lado irritam-se, dizendo que tais confusões são frutos de devaneios que não faz sentido.

Ora bolas, os devaneios não fizeram sentido em muita gente? Por que raios tenho de justificar-me com o alheio? Tenho pouca coisa a oferecer, talvez, em milésimos de segundos elas se mostrem em instantes profundos, em clarões que me fazem entender aqui ou acolá como um todo dentro de mim. Estas coisas desaparecem como nuvem passageira.

Quando um dia souber ao menos aquele milésimo de segundo, verei um monte de coisas confusas e difusas, como o combate ao sofrimento, alegrias e dor. Quando encontrar-me em mim todas estas coisas, não serei mais eu, e as camadas de minha carne, as zonas de dor, os feixes sobrepostos estarão nos recônditos da incerteza de meu grito. Então, procurarei outro problema qualquer, desde que seja para iniciar novamente este ciclo repleto de feixes desfigurados neste interior.

Combaterei tudo novamente! Até as migalhas jogadas ao vento. Não sobrará nada de nada! E assim, aqueles acontecimentos serão grãos de areia desfalecendo em minhas mãos repletas de dor. Até chegar lá, outros lugares estarão abertos e novos clarões serão extensões do que vejo perante os meus olhos. É neste ponto de partida muito curioso e estranho que meu corpo se ilumina, em um doce fardo que se mistura em um monte de componentes aparentemente desconexos que deixam-me incerto de sentir a força dos sentidos das camadas de minha carne, atravessadas em zonas e feixes de dor.

Assim, corro e volto ao mesmo lugar.

*Desenho. Claudionor Rodrigues!