quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Os leitores sem leitura: reprodução e submissão

Brasileiro só entra na livraria em dias de chuva. Esta frase é de Antônio Abujamra e faz todo o sentido  neste país., que é uma sociedade de letrados sem leitura.
O que isso significa?
Em uma país, onde a educação não é prioridade, os livros constantemente cedem espaço para outros tipos de leitura: mensagens de facebook, celular, e revistas de autoajuda. Isto significa dizer que a grande massa não é leitora de livros e em muitos casos, não há interesse para isso.
Segundo a câmara brasileira do livro, há quase 90 milhões de pessoas letradas no Brasil, mas uma significativa parcela simplesmente não lê nada, e estes somam 14 milhões. Todos com menos de 15 anos.
Este grupo representa 15% total dos brasileiros capazes de entender o que se lê. Este é chamada de elite cultural. Grande parte desta "elite" lê por obrigação e não tem prazer em ler, e admitem ter falta de paciência para ler.
Esta é a nossa elite cultural.
Outros dados nos chama atenção:
O Brasil tem 1.800 livrarias, metade fica no estado de São Paulo, cuja capital tem 200 livrarias. Rio de Janeiro tem 250, Acre e Amapá 3.
Além disso, temos uma livraria para cada 84.500 habitantes.Países como Estados Unidos tem 1para 15 mil,Argentina 1 para 50 mil.
O pouco acesso somado a falta de interesse, talvez explique o espírito de rebanho que temos por aqui. Mas, afinal de contas, o que estes dados nos revelam?
Uma postura reprodutora em opiniões, um forte espírito de rebanho, e principalmente, a ausência de espíritos livres que repetem tudo aquilo que lhes é inculcado em suas mentes.
É neste contexto que se pode ver que a dominação de um senhor sobre uma multidão parece ser tão real, que a maioria não percebe os golpes da mão invisível que esmaga sem dó em diversos aspectos de suas vidas.
Esta reprodução, somada a dominação, se transforma pura e simplesmente em submissão. Pois os dispositivos são tão sutis que somente um espírito livre para perceber.
Estes que não são leitores não conseguem perceber as nuanças de uma repressão, tão quanto os golpes de uma mão invisível. Pois aqueles que desconhecem os principais aspectos da cultura e história, dificilmente conseguem enxergar aquilo que lhes é imposto.

Aceitando passivamente, vivem a vida como um fato normal e nada questionam. Tudo é natural e trivial.   

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Nirvana: o último suspiro do rock.

" Eu não quero ser nenhum herói do rock. Eu não quero ser o cara com a mensagem certa para tudo. Eu não tenho cabeça para isso. Apenas toco baixo em um abanda" ( Kirst Noveselick)

A frase acima deixa claro que a banda de Seatle Nirvana nunca se preocupou com o sucesso, nem tampouco com a indústria cultural que ditava regras para as bandas. Do contrário, Nirvana foi o último suspiro do rock. 
Porque? 
Desde o início do Rock nos anos 50 com Elvis Presley, presenciamos atitudes radicais e ao mesmo tempo uma música que se apresentava como mudança de atitude e de comportamento. Os anos 60, 70, 80 e até meados de 90 perdurou esta atitude. Todas com cunho político e preocupações sociais. Os anos 60, por exemplo, viveu a realização de projetos culturais nascidos na década anterior. Os anos 50 foram marcados pela crise na moral e bons costumes, e a segunda metade dos anos 50 já pronunciava o que viria nos anos 60, não somente na música, mas em todos os campos da cultura. A literatura de Jack Kerouac, o rock de garagem à margem dos astros do rock, os movimentos de cinema e teatro davam o tom do que seria a década seguinte.
A década de 60, com diz a maioria dos estudiosos pode ser dividida em duas etapas. A primeira etapa é marcada por um certo idealismo em relação as lutas com o povo. A segunda metade desta década, que vai de 1966 até 1968, é o auge da rebeldia que viria a definir os anos 70: a experiência com drogas, e a perda da inocência, a revolução e o famoso maio de 68 dão o tom da revolta da juventude em relação aos governos. Beatles é o grande exemplo desta transformação. No início da carreira, as doces melodias e a lestras de amor eram as características principais, porém, fizeram grandes transformações ao assumirem a excentricidade psicodélica, incluindo orquestras, letras surreais e guitarras distorcidas e o engajamento político de John Lennon.
Podemos notar também a presença radical da mudança de comportamento: o  movimento hippie com seus protestos contra a guerra do Vietnã, e o surgimento de outros movimentos mostraram ao mundo que os jovens estavam cada vez mais engajados politicamente. É neste contexto que vários países do mundo estavam vivendo situações extremas de totalitarismo e repressão política, e o rock, como expressão máxima de contestação, foi um importante instrumento para a divulgação de idéias revolucionárias. 
No Brasil, o grande exemplo cultural que se tem é o movimento tropicalista,e diversos cantores de MPB, como: Chico Buarque, Geraldo Vandré, Caetano Velozo, entre outros, mostraram que a música era um importante instrumento de contestação a ditadura militar. 
É importante dizer que desde o início do Rock, surgido nos subúrbios dos Estados Unidos na década de 40 e início dos anos 50, até os dias de hoje, viveu-se várias transformações em diversos movimentos, tais como: Surf music, era de ouro, Garage Rock, Folk Rock,Rock psicodélico, punk rock, pós punk e New Wave.
E nos dias de hoje, o que temos? 
Parece que o último suspiro do Rock enquanto música de atitude e contestação foi nos anos 90 com o Grunge, estilo de música voltado para sons pesados e distorcidos, mas sem ser metal. A principal banda desse estilo era o Nirvana que tinha um som voltado para o alternativo. Bandas como Soundgarden e Alice in Chains tinham um estilo mais inspirado no metal e no hard rock, Pearl Jam puxava mais para o lado do hard rockrock clássico e rock alternativo.
Apesar de viverem na mídia, a maioria destas bandas nunca deixaram de lado suas atitudes para com a indústria cultural, negando-a completamente, sem deixar que esta contaminasse o estilo das bandas
Nos dias de hoje o que ocorre é um esvaziamento acerca da música, onde o contexto histórico parece determinar as condições das músicas do Rock em geral. Como uma vez disse a banda The Jesus e Mary Chain "the rock 'n roll is dead", parece ser verdadeira hoje em dia. 
Se compararmos a história do rock, seu movimento e verificarmos, veremos que o Nirvana foi o último suspiro do Rock enquanto Juventude Rebelde , e este pretenso esvaziamento se aflora na maior parte das bandas, onde cada uma vive em sua ilha, onde não há conexão com movimentos, como o Grunge, que parece ter sido o último suspiro do Rock. 
Com tanta liberdade de expressão, parece que o Rock se perdeu e não sabe voltar ou tentar ser melhor do que foi. Do contrário, falece a cada instante passado. 




  

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O amor nos tempos da web

Ele a curtia todos os dias quando visualizava seu perfil, acompanhava atentamente suas postagens, suas notícias e seus assuntos, no ímpeto de ver vídeos, álbuns e fotos, mudanças de avatar!
Deixava comentários cults, se fazendo de inteligente, de sabichão do presente. Ficava horas a fio teclando suas confidências, suas carências, sua ausência de amor e sua rotina do dia a dia.
Na intensidade de suas declarações, ficaram amigos, conversavam todos os dias, e sem querer estavam conectados um ao outro. De repente, como quem se ausenta e se perde ficaram sem conexão, sentiu-se desconectado, parecia à morte ficar distante do mundo virtual. Quando deu por si, estava completamente alheio a realidade que o cerca. Perdia horas a fio em conversas, bate papos, cochichos e, sobretudo, em querer saber um pouco mais do perfil do então amigo.
Passava horas a buscar informações sobre o pretendente, buscava saber seus gostos, suas preferências e a cada dia notava que este não se encaixava em seu perfil. Mesmo assim, curtia todos os posts de seu amigo, às vezes se enciumava com as publicações mais íntimas e de vez em quando o bloqueava.
Como quem não quer nada, como um passar de um tufão, bloqueou seu amigo. O motivo, ninguém sabe, o que acontece em um instante vai e vem e assim o então pretendente sumiu, permaneceu off line durante muito tempo. Não havia mais carinhas do emotions, nem sinais de positivo. As mensagens desapareceram, não havia mais nenhum sinal e assim permaneceu, sem nada.
Foi assim que iniciou uma nova busca...




segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Rebanho: cultura subjugada

O gosto artístico do brasileiro não é feito por ele mesmo e isto é um fato. As mídias em geral impedem-nos de conhecermos a diversidade e a riqueza cultural que este país tem. Ficamos a mercê daqueles que julgam e divulgam as novidades a serem degustadas, com isso, o gosto torna-se padrão.
Basta olharmos ao nosso redor e vermos o que está em voga: 50 tons de cinza, Funk, Michel Teló, Anita e entre outros que se passam por aí...
Cabe-nos a perguntar: o que acontece que desconhecemos completamente a diversidade cultural artística do país?
É estranho, mas muitos artistas que aqui são completamente ignorados, em outros países fazem imenso sucesso. Ignoramos nosso produto e aceitamos o que vem de fora. Não se trata de nacionalismo, nada disso. Se trata da ignorância que promovemos ao não conhecer o que é produzido por aqui.
Sabemos que a indústria cultural é responsável por promover o rebanho da cultura subjugada  Por este termos entendemos a formação de um grupo (que não é feita por ele mesmo) cujo objetivo é a promoção do gosto que lhes foi inculcado para outros grupos, criando um rebanho, uma cultura padrão, subjugada.
É estranho ver o que acontece nos dias de hoje, com tanta mídia alternativa e a promoção daquilo que não se vê e nem se ouve em rádio ou televisão. Só podemos concluir que a eficiência destes aparelhos é extremamente poderosa.

A falta de diversidade cultural entre nós faz isso: cria um rebanho subdesenvolvido e subjugado  cuja visão se estreita ao horizonte das costas um do outro, impedindo-nos de expandir e buscar as variedades que rolam por aí. Com isso, permanecemos em um estado de menoridade, do qual não se consegue buscar ou julgar qualquer coisa por si mesmo, criando uma eterna heteronomia face ao gosto que criamos.     

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O colapso da moral

Nelson Rodrigues talvez seja o grande prosador da anti-moral e bons costumes. Seus personagens ilustram muito bem as fraquezas e desvios humanos. Em um tempo do qual Zigmam Baumam chamou de era líquida, os valores tradicionais esvaziaram-se. É por isso que Nelson Rodrigues mostra-se tão atual.
Em uma de suas peças, Toda nudez será castigada, Nelson nos coloca em uma verdadeira sinuca de bico e chuta de vez a moral pras cucuias. Os personagens, Herculano, homem conservador que, ao ficar viúvo, perde a alegria de viver, Geni - prostituta que vive a obsessão de morrer de câncer no seio, Patrício - é irmão de Herculano, um homem do mundo, bon-vivant que aposta nos cavalos e vive ladeado por prostitutas; está endividado, Serginho - filho de Herculano possui tendências homossexuais e oscila entre o conservadorismo das tias e o liberalismo do tio, vivem verdadeiros dilemas.
De maneira geral, a peça conta a tragédia de Herculano. Após a morte da esposa, até então sua única mulher, ele encontra-se num estado de depressão, pensando inclusive em se matar. Uma presa fácil para o seu irmão Patrício, que culpa Herculano pela sua falência. Prevendo que a castidade do irmão seria sua fraqueza, Patrício o estimula a conhecer Geni, uma prostituta a quem ele deve uma quantia. Assim, ele poderia se vingar de Herculano – colocando-o entre o desejo sexual e a promessa que fez ao filho, Serginho, de que nunca mais teria outra mulher na vida – e, ao mesmo tempo, garantir seu sustento pago pelo irmão.
Herculano se apaixona por Geni, e fica preocupado com o fato de seu filho, que apresenta um comportamento conservador, saber de seu caso com a prostituta. É neste contexto que Serginho sofre um estupro na cadeia. Os quatro nutrem um fanatismo que beira o doentio em relação à esposa falecida de Herculano, a ponto de Serginho visitar o túmulo da mãe e sonhar com a sua presença todos os dias. São passagens tão estranhas que, perto delas, os hábitos extravagantes de Geni tornam-se aceitáveis. Porém, a peça não se restringe a crítica à religião, mas mostrar que ela é um discurso usado para suavizar a hipocrisia da sociedade de aparências.
O ponto cerne e o toque de mestre de Nelson Rodrigues acontece quando Herculano se casa com a prostituta e Serginho trai o próprio pai. Serginho mantém um caso com Geni, pois considera uma traição do pai se casar com outra mulher. Quando Geni está perdidamente apaixonada por Serginho, este resolve viajar com a desculpa de estar com vergonha do estrupo sofrido, mas na realidade, foge com o homem que o estuprou.
Este é um grande exemplo do qual podemos chamar de colapso da moral, ou seja, a falência múltipla dos valores tradicionais.
Ora, por que isso acontece? Simples, porque há novas formas de vida que estão surgindo e com isso, a grande mídia se alimenta destes comportamentos para realizar seus discursos ideológicos totalmente carregados de idéias vazias e sem nexo, promovendo a ignorância em âmbito nacional.

As transgressões expostas nos romances de Nelson Rodrigues explicitam isso, não há um padrão moralmente correto, mas sim, comportamentos humanos do qual o ser humano se faz.  Este fato faz evidenciar que o considerado certo e errado foi suspenso por atitudes anti-tradicionais. Eis a era líquida, os valores mudaram, os comportamentos também, e é justamente nisso que se encontra o colapso da moral, no desencontro das verdades pré-estabelecidas e no desvio constante delas.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A ditadura da diferença

Temos o direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o direito a ser diferentes, quando a igualdade nos descarecteriza”.(Antônio Teodoro)


A frase de Antônio Teodoro, sociólogo Português, pode servir muito bem para o tema aqui proposto: a ditadura da diferença.
De ante-mão, convém explicar a polêmica do tema. Há muito tempo se iniciou um debate em torno das minorias, porém, nota-se que estas mesmas minoria às vezes tentam nos impor goela abaixo seus padrões.Quem se prontifica ao contrário acaba  sendo taxado de reacionário.
Quando Feliciano apresentou seu polêmico projeto, houve uma ausência de fundamento sobre o debate e uma multidão caiu de pão em cima dele. Claro que Feliciano não é dos melhores em sua retórica e suas falas beiram o delírio, porém,  com lidar com tudo isso? Seguindo a baixaria padrão da mídia? Ou fundamentar e ver as causas do debate?
O exemplo de Feliciano é um grande exercício de se pensar os lados oponentes que não se acordam. Seguir o jogo de ofensas e delírios midiáticos só mostram como a gente segue facilmente a manada em suas opiniões.
A rasura predominante nos debates coloca em evidência a falta de busca e investigação de suas causas e problemas de propostas, e é neste contexto que fomentamos a cegueira social predominante nos dias de hoje, tentando impor a qualquer custo nossas opiniões.
Este contexto de humilhados e ofendidos talvez seja usado apenas como estratégia para a não compreensão de fato do problema de debater os projetos propostos a nós cidadãos.
Resta a nós apenas um desafio: debater, respeitar e não se valer deste jogo bárbaro que a mídia alimenta e incute em nossas cabeças.





quarta-feira, 1 de maio de 2013

O discurso politicamente correto: entre a censura e o autoritarismo


Existe uma onda em nossa sociedade onde tudo é motivo de debate e censura. Isto me preocupa. Primeiro porque as pessoas estão ficando cada vez mais chatas, segundo, porque, este discurso do politicamente correto que beira o desvario está cada vez mais comum em nosso cotidiano. Sociedades autoritárias disfarçadas de democráticas.
Esta chatice, típica do que se diz certo ou errado, censura até comemoração de gols no futebol. Neymar, por exemplo, fez uns gols por aí e recebeu cartão amarelo por indisciplina. O veterano Rivaldo foi censurado por comemorar seus gols colocando a camisa na cabeça. Ora essa, até para se comemorar um gol nos dias de hoje tem de se comemorar conforme a regra! Imagine se Viola jogasse nos dias de hoje e comemorasse a sua maneira. Coitado! Certamente seria censurado do futebol.
O último perseguido que deu o que falar foi o escritor Monteiro Lobato. Desconectados da realidade e da história, estes censores estão acusando o autor de Sitio do Pica Pau Amarelo de racismo. Esta acusação totalmente desconectada de seu contexto está desajustada. Grupos representantes do movimento negro dizem que o autor é racista por escrever negrinha e outras coisas. Trata-se de uma ignorância sem tamanhos. Ora, que censura é essa?
Imagine se esses censores lessem Marx, Aristóteles, Hegel e Platão. Este é perigo do discurso politicamente correto: dizer o que é certo, errado, o que pode e não pode. Pondé tem razão ao dizer que esta sociedade está ficando cada vez mais chata por caminhar rumo ao facismo.
Digo mais, a porta da ignorância está ficando cada vez mais aberta aos leitores desavisados e juízes de valores que pretendem reestabelecer a ordem dos bons costumes.
Que papo furado!
Caminhar por esta estrada supostamente correta, onde os recônditos do asylum ignorantiae ganham força, uma nova face parece surgir, o AI-5 com cara renovada e justificada. Toda esta ordem soa como já dizia Bakhtin “um pensamento autoritário como tal”. Devemos desconsiderar este discurso, e ignorar estes homens!