sexta-feira, 9 de julho de 2010

Felicidade é questão de constituição!



“felicidade não existe, o que existe na vida, são momentos felizes, a gente pode ser feliz, viver a vida sem sofrer, é não pensar no que vai ser, oh! Não me pergunte se amanhã, o nosso amor vai existir, não me pergunte, pois não sei” Musica: A noite mais linda do mundo, Odair José.

O congresso nacional continua realizando, mesmo em férias, oh! Debates interessantíssimos a sociedade. A novidade desta vez é a questão da Felicidade. Cristovam Buarque, aquele lá, que foi chutado do PT porque fez um planejamento para educação de base e ninguém o levou a sério, a felicidade deve ser um direito do cidadão. Isso mesmo! A felicidade deve ser incluída no artigo 6° da constituição. Outro parlamentar que vai na mesma onda, é o ex-presidente do PT, Ricardo Berzoini. Para o parlamentar, “Felicidade é estar bem com sua família, com seus amigos, com seu país. É sentir que as coisas estão andando bem, que os valores morais e éticos são base para uma sociedade mais justa. É você sentir que faz parte de uma comunidade. Eu sempre valorizo muito o sentimento de pertencimento”. Que piada! Berzoini não sabe que moral e ética não faz parte do vocábulo parlamentar!

Segundo alguns jornalecos que circulam por aí, Cristovam Buarque participa de um movimento chamado Movimento Mais Feliz. Parece até piada, mas é isso mesmo!

A modificação proposta pelo senador se aplica no artigo 6º, que trata dos direitos sociais. Três palavras são acrescidas, estabelecendo que a obtenção dos direitos já ali previstos são “essenciais à busca da felicidade”. Os direitos previstos no artigo 6º são educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados.

Questionado em suas observações, o senador respondeu, “não estamos colocando a felicidade na Constituição, mas estabelecendo que os direitos ali previstos estão diretamente vinculados à busca dessa condição de felicidade. Ou seja, deixar claro que não há possibilidade de bem-estar para o cidadão que não tenha acesso à saúde ou à educação”. Ah! Estas respostas repletas de polissemias viu!

Talvez fosse interessante a estes parlamentares muito comprometidos com a sociedade, ouvir a música A mulher mais linda do mundo, Odair José, cuja estrofe diz: a felicidade não existe, o que existe na vida, são momentos felizes. Talvez, eles pensem um pouco sobre esta alteração brusca, radical, em uma simples folha de papel.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A cegueira de Saramago


Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
(Livro dos conselhos)

Estou cego! Não vejo nada! Onde estão as pessoas? E os carros?

Esta palavra é apenas o prenúncio desesperado de uma pessoa que perde a visão na cidade. Mas que cegueira é essa, onde as pessoas enxergam uma cor branca de leite e não a negritude da escuridão. Certamente não é uma simples cegueira. Saramago sabe disso.

Vejamos.

Muitos carros nas ruas, o farol amarelo ilumina-se, em seguida, o vermelho. Mal fecha o farol, e as pessoas atravessam desesperadamente a faixa de pedestre, enquanto isso, os motoristas dos carros pisavam sem parar nos aceleradores demonstrando pressa. Ao abrir o sinal verde para os carros, os carros saem rapidamente, quer dizer, nem todos, um permanece no meio do caminho, tal como a pedra de Drummond, aquela lá que já sabemos. As pessoas se irritam com o carro parado, mas ninguém desce do carro para ver o que acontece. Num momento inesperado, um homem desce de seu carro para ver o que acontece com o cidadão.

O que acontece? – Disse o homem.

Estou cego. Respondeu secamente.

Como assim?! Perguntou o homem sem entender a fala do cego.

Ora! Estou cego e não enxergo quase nada.

Após esta fala, o cidadão resolve levar o homem para o hospital mais próximo da cidade. Ao chegar ao hospital, o homem é levado rapidamente ao atendimento e o cidadão caridoso que o socorreu, desaparece.

Ao voltar para a rua, nota que várias pessoas estão com os mesmos sintomas do homem recém internado. Ora essa, o que acontece? Parece que vi há pouco esta cena. Sem saber o que fazer, o homem dá uma andada na rua e vê duas pessoas conversando sobre o fato.

Que cegueira? Sabes do que se trata? Não sei.

Saramago sabe. Vejamos:

“Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.”

Talvez esta cegueira que Saramago nos diz, deva ser a cegueira contemporânea em várias instâncias de nossa sociedade.

sábado, 5 de junho de 2010

Um dia vai ser


pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

*Mosaico de Cida Carvalho
*Poema de Paulo Leminski

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Voar fora da asa


Manoel de Barros é um daqueles poetas que a crítica ignora. Não faz diferença alguma, o poeta não precisa dos comentários daqueles que escrevem para dizer o que é boa e má poesia. Uma das características do poeta é o reuso dos objetos desprezados pelo cotidiano. Alguns de seus poemas levam até mesmo a reflexão sobre o que estamos fazendo aqui em meio a tanta informação. Ao fazer travessuras com a linguagem, Manoel de Barros deve provocar a ira daqueles puristas lingüísticos, tais como Bechara e o Prof. Pasquale. Não importa. Escrevendo em seu idioma, Idioleto manolês archaico, Segundo o poeta: “idioleto é o dialeto que os idiotas usam para falar com as paredes e com as moscas. Fato este que me faz gostar tanto deste poeta, atrapalhando as significâncias.
Eis um poema do poeta.

II

Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao pente funções de não pentear. Até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tem idioma.

VII

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? – ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas-
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.

* BARROS, Manoel. O livro das ignorãnças. Rio de Janeiro. Ed. Record. 1993

sábado, 24 de abril de 2010

O pensar contemporâneo.

“Quando a gente olha para as coisas grandes, a situação política, o aquecimento global, a pobreza do mundo, tudo parece mesmo horrível, nada está melhorando, não há nada de bom para esperar. Mas então eu penso nas coisas pequenas, próximas...sabe como é, uma garota que acabei de conhecer, ou essa música que a gente vai tocar com o Chas, ou brincar na prancha de esquiar na neve, no mês que vem e aí parece ótimo. Então meu lema será este: pense nas coisas pequenas”.

Trecho do livro: Saturday, de Ian McEwan

segunda-feira, 29 de março de 2010

I

Numa visão esmerada, descomedida e acalentadora da realidade pros canto dos muros; encontrava-me quietinho em meu quarto com um olhar enviesado não se sabe pra onde, sabe-se apenas que era um esfacelado contemplar conotado d’uma tranqüilidade, ainda que um bocadinho bem longe; esta tenra imagem posta em esquadros longínquos; é uma imagem insípida d’um lugar de múltiplos olhares cujo cansaço não se enfastiava de fitar aquele montante de embaraço distorcido e doente, típico dos neuróticos que se cansam e se revoltam contra ela, faceta excessiva de imagens que deixam os olhos oblíquos e estrábicos de tanto olhar este lugar que pouco se conhece, que não é familiar e que de certa forma não se sabe qual é! Isto deixa-me feito um pássaro fora de seu ninho, aos poucos, sem perceber, meu berço se distanciava tranqüilamente...
Com tanta vozoeira; o quarto é apenas uma janela realizada por minhas mãos calmas, serenas e leves, quiçá um fluxo de gente grande e de carros semelhante a um filme que já havia assistido, mas que nunca tinha fim, na constante volta de olhares fixos da janela que estava por fora dela e que não havia interior, não sabia que interior exatamente; acho que era apenas uma tentativa desesperada de caçar algo, fisgar um peixe grande, portador de imensas dificuldades, mas o fato é que a todo instante estava lá, olhando as ruas, as pessoas e todo o movimento que por existir nos cantos que solam os sons a despir sentimentos pras pessoas, mas que besteira este movimento intrínseco, uma música invasora d’a alma e que pouco conhece de tudo, era puro sentido, um devir possuidor de esferas nucleares prontas para explodir em qualquer canto; (como elas são difíceis!), não conseguia nada, encontrava-me à flor da pele e a cada mover que surgia nas pessoas, não sabia como fazer, nada era supérfluo, apenas uma constância de resistência ligeira que esquiva dos cantos que acolhem esta casa possuidora de instantes resolutos, face ao teto que eleva miudamente algures antes nunca vistos naquele lugar amolador de delírios, de loucura, de estar vendo todos os momentos que se passam na vida, com as velhas fotografias que tiramos ao longo dos anos. Que nostalgia traz vislumbrar o que ainda não vi, paralisar o momento; deixá-lo etéreo na soma de imagens infinitas longe demais das capitais; bastava apenas um toque e pronto, lá se prontificava; estático, movido em dias como a água que bebo e que me fez realizar por inteiro, uma volúpia efêmera de instantes duradouros que resgatam a pequena lembrança de ver a realidade e sentir que não é possível transformá-la, é triste demais; pois às vezes tenho a leve percepção de que não é possível mudar nada; e que é melhor pensar pequeno, esquecer as grandes coisas, não obstante, fico a pensar algures que possa ser mudado, neste instante, vejo apenas estes intercedidos no meio do caminho, em meio a pontas e curvas das dificuldades que a vida proporciona, - configurando em si uma luta que desde cedo inicia para quem está a buscar a vida a todo o momento, a vida não para, é tão rara que o que pensamos ser, parecem às mutações decorrentes em nosso intrínseco.
Mas, vejo que minha pobreza é abissal e não consigo deslembrar por todos os cantos que olho; vejo pessoas débeis procurando o que comer, lutando por seu pão, sobretudo, pela vida que derruba diariamente as pessoas que não conseguem um dia chegar aos sonhos que acham possíveis, elas estão tristes em demasia e com isso, acabam desistindo de viver pelo fato de que “a vida não dá chance”, é como um triste canto fúnebre, pensar como pobres mortais que somos e carentes do puto que romba o correr miudamente nos pequenos cantos que aos poucos se liberam em faze-lo...Ah, que dó! Ver nesta inércia isolante o que só faz movimento de olhares de vida alheia,
Que dó!
A dificuldade de todos os dias é como a loucura que percorre lugares que não se sabe pra onde vai, não corre e nem fica pra trás, e é assim justamente o que acontece cá neste cantinho pouco diferente do lugar que antes vivi – quer dizer, - não é plausível fazer comparações, é melhor deixar de lado essas bobagens que não levam a lugar nenhum, nem tampouco a algum movimento.
É melhor voltar aos instantes pascidos e não ficar em cima do muro...

* Trecho do livro: Moinho d'um tempo, de Marco Rodrigues










terça-feira, 16 de março de 2010


Suspenso, suspenço, suspensu, ou sunspençu?