quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os deveres e a poesia

(...) Tinha pensado que a vida era um mar de rosas quando criança. Com o passar dos tempos, o crescimento e as responsabilidades, notei que as coisas que estavam ao meu redor não eram frutos repletos de fantasia. Ao contrário, comecei a compreender as angústias de meus pais brigando por coisas que no começo de minha vida não faziam sentido e as julgava como tolas. Hoje, vejo que é exatamente ao contrário. Aquela vida vivida nos primeiros anos nada mais era que uma obra construída arduamente pelos míseros capitais guardados nos bolsos furados de meus pais. Compreendi que os deveres de casa eram prioridade para a sobrevivência cotidiana do pão nosso de cada dia, e aquele muindo repleto de ilusão aproximava-se mais d'uma alegoria do bovarismo do que a concretude das coisas, que se esfacelou até a percepção de que a vida é tão rara e a conquista não é feita tal como pensam os poetas. Opostamente a isso, não havia lugar para poesia em casa, cuja premência da vida é a categoria primeira. Meus pais ficavam loucos da vida ao tentar buscar uma vida inexistente, mas não compreendiam que a dificuldade de se fazer um movimento tão pretensioso como esse, era tensão pura entre o abuso e o esgotamento de si mesmo.
A parti daí, o mundo surgiu doente e o espanto já não era surpresa.
E assim ficou sendo...

2 comentários:

rafael andolini disse...

ficou sendo até deixar de se-lo conforme o decreto do tempo!

Elaine Cristina disse...

Perdemos as ilusões de crianças e nos apegamos às ilusões de adulto...