sexta-feira, 18 de setembro de 2009

João pequenino

Existiu no interior um caboclo chamado João Pequenino. Morava num lugarejo tranqüilo com sua família, mas cansado daquela vidinha pacata, resolveu ir embora de seu cantinho pr’uma cidade grande em busca de trabalho, pois onde morava com sua família, a vida não era muito boa; não havia mais lugar para roçar. Motivo: a máquina invadiu o campo e como João era um caboclo que mal freqüentou a escola e não conhecia esses aparatos tecnológicos, não soube lidar com essas novidades provindas da cidade grande. Isto só fez com que João Pequenino alimentasse o desejo de ir embora. Saiu então sem rumo na vida, procurando algum lugar que lhe fosse conveniente, até que um dia chegou na cidade grande. João Pequenino ficou abobado com a imensidão da cidade, nunca havia saído de seu lugar de origem e quando se deparou com trem grande demais, ficou sem rumo. Quando já estava na cidade, viu uma multidão correndo estressada e sem tempo a perder, afinal, tempo é dinheiro! Ao reparar tamanha correria, João viu algo mais e correu para ver o que estava acontecendo, eram dois homens brigando, cada um estava portando uma faca. Aí João Pequenino começou a falar: “Haja sangue, haja sangue, haja sangue!” Daí, as pessoas começaram a falar para ele: “Não é assim que se fala João”. Confuso, João não sabia o que falar. Em sua andança pela cidade grande, o mesmo deparou-se com um casal de noivos que tinham acabado de se casar. João disse “Deus os separe, Deus os separe, Deus os separe!” Novamente, as pessoas disseram a ele que não se fala assim e que o correto é: “Todo dia um desse, todo dia um desse, todo dia um desse!”. Foi então que João ficou mais confuso ainda com o clima caótico da cidade; muita gente andando pra lá e pra cá e ninguém falando com ninguém. Foi nessa mesma andança, perdido e sem rumo, que João viu um enterro de longe e disse a mesma coisa. “Todo dia um desse, todo dia um desse!”. Mas o padre que ouviu aquilo de longe, achou uma ofensa das grandes e disse-lhe “Meu filho, não se fala desse jeito, a gente se ajoelha perto do morto e reza”. Sem sentido, João saiu andando e já não sabia de mais nada, acho que o barulho da cidade o enlouquecera e o fizera dizer tantas besteiras. Continuando com sua andança, em um lugar muito estranho, desabitado e de pouca gente, João viu na beira da esquina deste pequeno bairro um cavalo morto; João foi se ajoelhar perto do animal e começou a rezar “Ave Maria cheia de graça...” As pessoas que estavam ali próximas, não acreditaram no que viram, o acharam louco. Revoltadas com a cena, disseram “Meu filho, estás louco?!”. João muito decepcionando pensou. “ Ora essa, foi o padre que disse isso a mim. Por que hei de ficar louco?! Não me dou com esta gente e com este ambiente diferente que eu acho tão esquisito. Preciso voltar pra minha roça e mexer em minha palhoça; o lugar que eu realmente acredito!”.Perdido e sem esperanças, João não sabia o que fazer, sem dinheiro, nada é possível ”Preciso voltar pro meu caminho!”. Só pensava nisso. Não acostumado com o sotaque desta gente tão agitado e tão diferente, João acabou sem emprego e sem ninguém. Na roça já não tinha no que trabalhar, na cidade; muito menos! E suas esperanças esvaíram pelos ventos e João permaneceu na cidade grande lutando por seu pão de cada dia...

Obs: Esta é uma estória que o povo conta em diversas regiões do Brasil. Tive a oportunidade de ouví-la de meu avô e pais quando pequeno. Esta é a versão que eles me contaram, juntamente com o povo de suas terras.
Avaré, Taquarituba e Teresina, 2004- 2005