domingo, 7 de setembro de 2008

Anti-Democracia: Contra política do Pão e do Circo

Vivemos em uma sociedade em que a política é vista como uma atividade de determinadas classes, sem sentido público e coletivo. Os interesses e as preocupações das pessoas se restringem estritamente ao âmbito privado, no entanto, todos reclamam da forma que é executada a política, da ineficiência dos serviços públicos, dos políticos, dos altos impostos, dos descalabros decorrentes na sociedade; mas nada se faz. Tudo permanece inerte.
Se em alguns momentos da história o sujeito fazia sentido ao mundo público, nos tempos contemporâneos o que ocorre é o revés. Estes mesmos sujeitos que reclamam do público são os que se refugiam no mundo privado, pois o público é tido como ineficiente e alheio. As ruas, as praças, as escolas, os hospitais são vistos apenas como lugares de passagem. Do mesmo modo que estes locais se tornam esquadros, as pessoas transitam nas ruas com medo.
É a cultura do espanto, quiçá estes elementos tenham profundas heranças enraizadas na modernidade.
Nossos tempos, marcados por sinais que conjugam com a incerteza, insegurança, desproteção que são visíveis ao olhar de todos, é a herança da apatia predominante nos dias de hoje. As pessoas têm a sensação de que pouco podem fazer para mudar o estado de coisas. Mas, não é esta mesma sociedade em que os políticos dizem ser democrática? O que acontece para que o estado de coisas não mude?
O fato é que muitos têm medo. Ao lado da apatia reinante, a impossibilidade de mudar parece evidente.
A sociedade brasileira se acostumou com a falta de proteção, aprendeu a conviver com o medo, com a bala perdida e o desemprego. Vivemos em um país em que um parlamentar confessa ter recebido dinheiro de forma ilegal e nada acontece; que o presidente da República afirma com toda calma em entrevista que caixa dois é prática comum em todas as eleições e que todo mundo faz, e um procurador denuncia a existência de 40 bandidos no congresso, mas nada acontece.
Este é o retrato de nossa democracia burguesa!
É neste mesmo país que se destina cerca de dez milhões de dólares para levar o Coronel Marcos Pontes ao espaço, enquanto a educação recebe bem menos que isso.
II
Há quase exatamente oito anos um operário ocupa a cadeira presidencial de seu país. Poucos países podem colocar este dado no seu currículo. Houve um dado de esperança, o lema da campanha de Lula foi “a esperança venceu o medo”.
Será que houve superação do medo?
Um fato é certo, a sociedade não é democrática, pelo contrário, que democracia é essa que acentua a desigualdade social?
De acordo com Norberto Bobbio, democracia é a forma de governo na qual o poder é exercido por todo povo, por maior número, ou por muitos. A democracia se distingue da monarquia e da aristocracia, nas quais o poder é exercido respectivamente por um ou por poucos.
Conservando marcas da sociedade colonial, escravista, as relações sociais são realizadas como relação entre um superior, que manda, e um inferior, que obedece. O outro, jamais é reconhecido como sujeito de seus direitos, pelo contrário, é visto como um mero objeto de serventia.
Este é o país em que vivemos, onde a concentração de renda e da riqueza é marca registrada neste país. O motivo desse fato é decorrente da enorme concentração de poder. Os 10% mais ricos da população impõem historicamente a ditadura da concentração, pois chegam a responder por quase 75% da riqueza nacional, enquanto os 90% mais pobres ficam com apenas 25%. Ou seja, o que prevaleceu mesmo o país tendo mudado várias vezes de regime, foi à ditadura da concentração de renda. Essa situação se agrava ainda mais quando pensada nos dias atuais; embora o país possua aproximadamente 60 milhões de famílias, 45% de toda a renda e riqueza nacional são apropriadas por apenas 5 mil famílias. Este descalabro vem sobrevivendo a todas as mudanças históricas.
Resta novamente a pergunta: Que democracia é essa que acentua a desigualdade social? Isso só acentua a gravidade e o enfraquecimento deste conceito.
III
Quando se tenta questionar os valores sociais impostos pela burguesia dominante o que ocorre é simplesmente o silenciamento do outro.
Foi o que aconteceu...
No dia 02 de setembro, a ministra da casa civil, Dilma Rousseff, visitou o campus Rudge Ramos da Universidade Metodista de São Paulo, a fim de participar do lançamento da candidatura de Luís Marinho a cidade de São Bernardo do Campo, e o seu vice, o cantor Frank Aguiar, mais conhecido como o cãozinho dos teclados.
O evento foi realizado no salão nobre, localizado no Edifício Beta. Toda a panela Petista se encontrava por lá. Inclusive o Senador Aloizio Mercadante.
Muitos alunos do curso de filosofia não ficaram sabendo do evento, uma vez que o mesmo não foi divulgado, ou seja, o que houve não foi apenas um lançamento de programa, pelo contrário, foi um evento de exclusividade do Partido dos Trabalhadores.
Quando ficamos sabendo do evento, decidimos realizar um ato de repúdio, pois não se tratava de um debate, mas sim uma festa eleitoreira do PT juntamente com a imprensa! Ora, a Universidade não é local para esse tipo de politicagem, para isso, os Partidos Políticos tem seus diretórios.
Nós, estudantes de Filosofia entendemos que este tipo de evento não é correto fazer em uma Universidade e que seria mais prudente um debate entre os candidatos e não um evento fechado de exclusividade do PT.
Neste sentido, subimos as escadas que dão acesso ao salão nobre com os seguintes dizeres:
“Politicagem em cima de sala de aula é um péssimo jeito de iniciar um diálogo com a educação."
Foi o suficiente para iniciar o estopim.
Militantes e seguranças do Partido dos Trabalhadores agiram violentamente contra nós estudantes de Filosofia, fomos escorraçados a socos e pontapés pelos jagunços do PT. Corremos em direção aos corredores de nosso curso onde violentamente fomos agredidos. Após o feito, vários alunos saíram em direção para ver o acontecido, enquanto isso, os militantes e seguranças do PT foram embora pela porta dos fundos.
IV
Enquanto os homens exercem seus podres poderes, Dilma Rousseff se pronunciou:
“As manifestações como essa não são democráticas, porque eles (os estudantes) entraram em um local fechado. Se expressaram de uma forma um tanto quanto, eu diria, não necessária. Espero, pelo bem da democracia, que é muito melhor uma convivência mais civilizada".
Há alguns elementos a serem desnudados na fala da Ministra da Casa Civil.
Em primeiro lugar estávamos no edifício em que estudamos e não como diz a ministra, em um local fechado. Se, expressamos de uma forma desnecessária ao estender um cartaz e as manifestações que a ministra as classificou como não democráticas, preferimos ser ANTI-DEMOCRÁTICOS, pois se democracia se faz com socos e pontapés, preferimos ser anti-democráticos. Isso só mostra como a palavra democracia não faz o menor sentido numa sociedade que possui fortes raízes do colonialismo e escravismo.
Devemos lutar contra a manipulação alienante que ocorre na sociedade nos dias de hoje. Ao contrário dos que pensam que agimos a favor de Orlando Morando, adversário de Luis Marinho em São Bernardo do Campo, agimos em favor de nossa indignação para com o cenário político nacional.
Difícil é mesmo ver as pessoas sujeitadas a estas politicagens, resignados ou cínicos, a política torna-se sinônimos de interesse privados e do mercado, ou seja, das elites.
Abandonar?
Não!
Compactuar com o estado de coisas é ser conivente com toda essa manipulação decorrente.
Por isso, nosso lema é Fora-Todos!
Universidade não é local de Politicagem!
Pelo contrário, é local de debates.
Por isso, nós estudantes de filosofia estamos mobilizados na construção de uma educação mais decente e pela livre expressão dentro e fora da universidade.
Contatos: estudantesfilosofia@gmail.com

Um comentário:

rafael andolini disse...

caralho marcão!!!
desgraceira em quatro atos!
essa foi foda! post foda do caralho!!!
de mais a mais, percebemos que cão que ladra, morde sim.
ainda mais os cães com teclados.