segunda-feira, 8 de março de 2010

(...)

I
Na ausência de dormir,
a hora de partir,
no instante de ter,
a hora de perder,
Entre ponteiros e arvoeiros,
não há sineiros,
somente,
Caeiros...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Marx e a atualidade da XI tese sobre Feuerbach

“Os filósofos tem apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transformá-lo”.

Teses sobre Feuerbach é redigido após a insurreição dos tecelões ocorrida em 1844 e surge provavelmente em março de1845. Este fato marca consideravelmente a virada ideológica na evolução do pensamento do Jovem Marx.
Além deste ocorrido, dois outros acontecimentos são fundamentais para a compreensão das teses, o levante da Silésia e o movimento comunista em Paris nos remetem diretamente as teses mencionadas, especificamente a XI “Os filósofos tem apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transformá-lo[1]”.
Estes acontecimentos colocam para Marx o problema da prática revolucionária das massas proletárias. A primeira tentativa de compreensão e solução é esboçada num artigo nomeado de Vorwärts . Neste artigo Marx esboça que o proletariado é o elemento ativo da emancipação. É a partir deste contexto que surgem as teses sobre Feuerbach.
Na tese XI podemos verificar a relação entre Marx e a Filosofia do século XVIII, bem como as anteriores que marca a ruptura definitiva com as demais filosofias.
Nesta tese, Marx diz que os filósofos interpretaram o mundo e no entanto, a tese explicita justamente o contrário.Marx luta para transformá-lo, ou seja, trata-se de uma prática revolucionária oposta a especulação abstrata, típica dos filósofos de sua época.
Esta tese trouxe algumas influências conhecidas entre nós. Neste mesmo caminho seguiu Lênin ao dizer, “não há prática sem teoria revolucionária”. Mas nesta tese podemos verificar que há outros elementos, isso por que para Marx está claramente estabelecido que o mundo deve ser compreendido em sua contradição, bem como revolucionado em sua prática.
Esta tese tem uma importância cerne, principalmente nos dias de hoje, em que diversas correntes filosóficas evocam prática antes da interpretação especulativa. 11° tese trata-se de uma interpretação acompanhada por uma prática crítica, na qual a teoria já é prática. É assim que Marx estabelece uma ruptura entre os demais filósofos de seu tempo que interpretaram o mundo. Anunciando uma nova prática filosófica que é fruto de inúmeros debates contemporâneos.


[1]MARX. K. A Ideologia alemã e teses sobre Feuerbach. São Paulo: Ed. Moraes, 1984.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O vírus Bóris Casoy

Que em determinadas circunstâncias a linguagem é ideológica, sabemos disso. O que não sabemos é que este campo se transformou numa verdadeira arena de luta de classes nos noticiários brasileiros. Nesta batalha semântica, algumas falas determinam posições que lembram até o cheiro do ranço bandeirante que ainda vive na mentalidade escravocrata e aristocrata brasileira. Destacam-se nesta guerra ideológica de palavras o Jornalista Boris Casoy, não por seu jornalismo, ao contrário, por suas concepções que exalam a odiosa mentalidade dos velhos proprietários de terras do Brasil Colônia e o odor das dondocas que tomam chá das cinco nos Jardins da Cidade de São Paulo.
No dia 31/12/09 Boris Casoy apresentou o Jornal da Band, e como pode-se imaginar, fez diversos comentários acerca dos acontecimentos que ele mesmo classifica-os com sua famosa frase:“isto é uma vergonha!”.
Um neopuritanismo bandeirante.
Como sabem, era véspera de ano novo, e os jornais brasileiros adoram explorar a imagem alheia pra ganhar um bocadinho de ibope. Certamente Boris Casoy o conseguiu ao realizar comentários de dois garis que desejavam feliz 2010 aos telespectadores. Para aqueles que não conhecem sua posição, ficou claro ao dizer: “Que merda...Dois lixeiros desejando felicidades... Do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho”.
(...)
Percebendo seu erro ao deixar o microfone ligado, no dia seguinte o jornalista pede desculpas: “Ontem, durante o programa, eu disse uma frase infeliz que ofendeu os garis. Eu peço profundas desculpas aos garis e a todos os telespectadores”.
Como pode-se notar, as declarações do jornalista refletem a formação de uma mentalidade odiosa que jamais foi banida desde os tempos de Pombal. Ou pior ainda, as desculpas de Boris Casoy, não foram feitas por compaixão, caridade ou dó, mas por causa do “vazamento de informações”. Sua postura conservadora, direitista e reacionária, apenas demonstrou as marcas predominantes de uma sociedade colonial, onde as relações sociais são realizadas entre um que manda e outro que obedece. Esta relação jamais banida, demonstra fortemente a verticalização desta em vários aspectos. A fala deste jornalista foi apenas a confirmação de uma mentalidade odiosa que custa a predominar em nossa sociedade.
Isto sim, é uma vergonha!


*Imagem: Lattuf 2010

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Josué de Castro e a Geografia da Fome.

“O maior absurdo de nossa sociedade é termos deixado morrer centenas de milhões de indivíduos de fome num mundo com capacidade quase infinita de aumento de sua produção e que dispõe de recursos técnicos adequados à realização desse aumento” (Josué de Castro)

Josué de Castro foi um brasileiro que, ainda jovem, se sensibilizou com o problema da fome e a desnutrição de seus conterrâneos que viviam no mangue, em Recife. Neste lugar, os retirantes que fugiam da seca, capturavam os caranguejos na lama para se alimentar. Josué de Castro percebeu a partir deste fenômeno, que a fome era um problema eminentemente político.
Graduado em medicina, começou a clinicar no Recife, onde conheceu de perto a extrema pobreza que assolava os habitantes de sua cidade. Percebeu que as conseqüências biológicas da fome resultavam em péssimas condições de vida que eram impostas as camadas mais pobres da população. Para demonstrar suas observações, escreveu o livro As condições de Vida das Classes Operárias no Recife.
Longe de ser um mero observador da realidade vivida, Josué de Castro contribuiu efetivamente na tentativa de minimizar os problemas da fome. Infelizmente o problema está longe de ser erradicado, mas seus estudos demonstraram que a fome é um fenômeno social, criado por certos tipos de homens.
Josué de Castro não falava somente da fome de comida, mas também da fome de saber, conhecimento e sobretudo, liberdade. É por isso que sua obra é extremamente atual em nosso Brasil arcaico, cujas raízes autoritárias que tanto denunciou, ainda permanecem inalteradas.
Chico Science, ex-vocalista da banda Nação Zumbi fez referências a Josué de Castro ao denunciar as desgraças sociais do Recife na música Da lama ao caos, “O Josué eu nunca vi tamanha desgraça. Quanto mais miséria tem mais urubu ameaça”.
Sua obra prima é Geografia da fome, na qual estuda os diversos fatores das causas da fome no Brasil. Esta obra é um importante referencial para quem deseja conhecer as diversas facetas da desigualdade social do Brasil.
Ao se referir sobre a questão da fome, escreve Josué de Castro:

Está provado que a natureza não é mesquinha e que seus recursos são mais do que suficientes para alimentar bem todo o efetivo humano por longos anos a vir. Quem tem sido mesquinha é a condição humana, ou melhor, a condição desumana de nossa civilização.

O problema da fome não é novo, mas a perspectiva pela qual se percebe a trágica realidade. Geografia da fome é um importante instrumento para conhecer as diversas formas da fome, cujo absurdo de nossa sociedade é deixar morrer centenas de milhões de indivíduos de fome, num mundo com capacidade quase que infinitas de recursos técnicos adequados a realização desse aumento.
* Imagem: A.R. Florim

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Senhor soberano

Muito honrado ao senhor soberano, envio-lhe esta carta dizendo tudo que o senhor prometeu, não aconteceu. Do que se pensou em fazer, nada foi feito. Que o alvo das críticas, às vezes irrefutáveis, continuam na mesma. Que os que pedem por ajuda continuam na ajuda. Que os que denunciam esta bandalheira, ainda são, bandalheiros.
(...)
A sociedade que o senhor disse mudar, não mudou, mas alguma coisa aconteceu meu caro senhor; está tudo tão diferente!
A solução de seus problemas, o paraíso fiscal, os castelos feitos, os dinheiros nas malas, cuecas, que vão sumindo aos nossos olhos, continuam muito bem como a droga da deliquência sem solução.
Pura oratória!
Seu Estado deve ser Eldorado.
E o nosso, retardado e demandado.
É a premência da vida.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Dinheiro, cuecas e afins.

O governador de Brasília deve estar de cabeça quente. Ou talvez não. Depois do escândalo envolvendo dinheiro, cuecas, meias e afins, seu partido político ficou numa saia justa. O DEM (Dinheiro em meias, Deu em Merda) ficou de analisar o caso e decidir o futuro de Arruda com a cínica justificativa de prestar contas a sociedade. A questão que fica posta para nós reles cidadãos que apenas presenciamos tudo de longe é: que fazer diante de tanta corrupção?
A pergunta é mais do que batida e óbvia. Isto é sinal que este acontecimento já é tido como normal para alguns. Enquanto Arruda segue tranqüilo em seu governo, manifestações se espalham em algumas regiões de Brasília e o que acontece quando há amostras de alguns indignados com a situação vigente é justamente o revés do que deveria ser feito com aqueles que cometem crimes. Ou seja, os indignados que protestam contra a corrupção, e que segundo Arruda impedem o direito de ir e vir dos cidadãos, devem ser repreendidos. Como disse Arnaldo Jabor, a justiça além de ser cega é paralitica. Deve ser por isso que ocorrem com tanta freqüência estes acontecimentos.
Uma coisa é certa: se um destes políticos for assaltado, não diremos “mãos ao alto!” ao contrário, devemos dizer “abaixe as meias e as cuecas!”.
Talvez ali se encontre a origem da corrupção!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os deveres e a poesia

(...) Tinha pensado que a vida era um mar de rosas quando criança. Com o passar dos tempos, o crescimento e as responsabilidades, notei que as coisas que estavam ao meu redor não eram frutos repletos de fantasia. Ao contrário, comecei a compreender as angústias de meus pais brigando por coisas que no começo de minha vida não faziam sentido e as julgava como tolas. Hoje, vejo que é exatamente ao contrário. Aquela vida vivida nos primeiros anos nada mais era que uma obra construída arduamente pelos míseros capitais guardados nos bolsos furados de meus pais. Compreendi que os deveres de casa eram prioridade para a sobrevivência cotidiana do pão nosso de cada dia, e aquele muindo repleto de ilusão aproximava-se mais d'uma alegoria do bovarismo do que a concretude das coisas, que se esfacelou até a percepção de que a vida é tão rara e a conquista não é feita tal como pensam os poetas. Opostamente a isso, não havia lugar para poesia em casa, cuja premência da vida é a categoria primeira. Meus pais ficavam loucos da vida ao tentar buscar uma vida inexistente, mas não compreendiam que a dificuldade de se fazer um movimento tão pretensioso como esse, era tensão pura entre o abuso e o esgotamento de si mesmo.
A parti daí, o mundo surgiu doente e o espanto já não era surpresa.
E assim ficou sendo...