segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Josué de Castro e a Geografia da Fome.

“O maior absurdo de nossa sociedade é termos deixado morrer centenas de milhões de indivíduos de fome num mundo com capacidade quase infinita de aumento de sua produção e que dispõe de recursos técnicos adequados à realização desse aumento” (Josué de Castro)

Josué de Castro foi um brasileiro que, ainda jovem, se sensibilizou com o problema da fome e a desnutrição de seus conterrâneos que viviam no mangue, em Recife. Neste lugar, os retirantes que fugiam da seca, capturavam os caranguejos na lama para se alimentar. Josué de Castro percebeu a partir deste fenômeno, que a fome era um problema eminentemente político.
Graduado em medicina, começou a clinicar no Recife, onde conheceu de perto a extrema pobreza que assolava os habitantes de sua cidade. Percebeu que as conseqüências biológicas da fome resultavam em péssimas condições de vida que eram impostas as camadas mais pobres da população. Para demonstrar suas observações, escreveu o livro As condições de Vida das Classes Operárias no Recife.
Longe de ser um mero observador da realidade vivida, Josué de Castro contribuiu efetivamente na tentativa de minimizar os problemas da fome. Infelizmente o problema está longe de ser erradicado, mas seus estudos demonstraram que a fome é um fenômeno social, criado por certos tipos de homens.
Josué de Castro não falava somente da fome de comida, mas também da fome de saber, conhecimento e sobretudo, liberdade. É por isso que sua obra é extremamente atual em nosso Brasil arcaico, cujas raízes autoritárias que tanto denunciou, ainda permanecem inalteradas.
Chico Science, ex-vocalista da banda Nação Zumbi fez referências a Josué de Castro ao denunciar as desgraças sociais do Recife na música Da lama ao caos, “O Josué eu nunca vi tamanha desgraça. Quanto mais miséria tem mais urubu ameaça”.
Sua obra prima é Geografia da fome, na qual estuda os diversos fatores das causas da fome no Brasil. Esta obra é um importante referencial para quem deseja conhecer as diversas facetas da desigualdade social do Brasil.
Ao se referir sobre a questão da fome, escreve Josué de Castro:

Está provado que a natureza não é mesquinha e que seus recursos são mais do que suficientes para alimentar bem todo o efetivo humano por longos anos a vir. Quem tem sido mesquinha é a condição humana, ou melhor, a condição desumana de nossa civilização.

O problema da fome não é novo, mas a perspectiva pela qual se percebe a trágica realidade. Geografia da fome é um importante instrumento para conhecer as diversas formas da fome, cujo absurdo de nossa sociedade é deixar morrer centenas de milhões de indivíduos de fome, num mundo com capacidade quase que infinitas de recursos técnicos adequados a realização desse aumento.
* Imagem: A.R. Florim

8 comentários:

Elaine Cristina disse...

Muito bom! Eu já tinha visto algumas referências desse livro, o seu texto é um bom estimulo para conhecer mais sobre o assunto. Quem sabe ajuda a entender melhor a geografia, a política e a indústria da fome e ainda estender a outras privações absurdas que tem ocorrido como é o caso da água.

Unknown disse...

A idéia do texto é apenas mostrar de forma muito introdutória o legado de Josué de Castro, que infelizmente está esquecido no Brasil. Como outros pensadores, seu reconhecimento é fora do Brasil.
Como médico, ele faz uma análise biológica dos aspectos da fome, bem como as consequências, sobretudo, sociais, daqueles que tem fome. Vale a pena ler!

Anônimo disse...

Seja sempre bem-vindo! Gostei do material ideológico postado por aqui, também.

Aline A. disse...

Ahhh bacana... visitaremos os blogs então...

beijo.

Unknown disse...

Isso, isso.

-rayane- disse...

Nossa, e esse blog aqui?
Parabéns pelo conteúdo. Adorei o que li e me interessei pela leitura do livro citado! Obrigada pela visita, beijas!

Unknown disse...

Obrigado Rayane pelo elogio.

dilita disse...

Guerra Junqueiro escreveu:

"Óh Natureza,a Única Bíblia Verdadeira És Tu!"
Sim,a Natureza é um manâncial...
E a fome um flagelo criado pelo egoísmo e maldade de muitos eruditos!